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O FILHOTE

sábado, 28 de novembro de 2015

INÍCIO INCORRETO DA RECUPERAÇÃO DO RIO DOCE

SAMARCO JOGA LAMA REMOVIDA AO LADO DE RIO

 

Empresa deposita material retirado em Barra Longa às margens do Rio do Carmo, o mesmo que levou rejeitos da barragem até o Rio Doce


A mineradora Samarco está depositando a lama que vem sendo retirada há três semanas do centro da cidade de Barra Longa, a 60 quilômetros de Mariana (MG), justamente na margem do Rio do Carmo, curso d’água que termina no Rio Doce e local de onde está vindo a sujeira que contamina a água potável de mineiros e capixabas e já chegou ao mar. 

O procedimento, dizem especialistas, contamina cada vez mais a água do rio, pois a lama, com a chuva, volta a escorrer para as águas. A Samarco diz que o depósito no local é temporário e a empresa busca um espaço adequado.

A montanha de lama fica bem na entrada da cidade. Caminhões que saem de Barra Longa percorrem cerca de um quilômetro até o local do depósito, um terreno que funcionava como centro de exposições para festas agropecuárias da pequena cidade, de 7 mil habitantes.

Uma escavadeira e uma pá mecânica passam o dia empilhando a sujeira depositada pelos caminhões. “É um lugar provisório, mas ainda não encontramos outro”, diz o prefeito de Barra Longa, Fernando José Carneiro Magalhães (PMDB), ao reconhecer que a lama pode voltar ao rio. “Falaram que iriam deixar lá para secar, e depois colocariam em outro lugar”, continua. 


Prazo. 
Magalhães afirma que, em reuniões com a Samarco, foi estabelecido prazo até 30 de setembro do ano que vem para que a limpeza na cidade termine. O presidente da Associação Brasileira de Análise de Impacto, Alberto Fonseca, pró-reitor da Universidade Federal de Ouro Preto, afirma que o que o risco é de um “assoreamento homeopático”, com a lama voltando ao rio aos poucos, levando as partículas sólidas de volta ao curso d’água. “Antes de fazer qualquer análise, é preciso saber o que é esta lama. Fazer um plano de amostragem, com análises em diversos pontos, para aí, sim, saber do que se trata o material”, explica o engenheiro ambiental.
“Se for constatado que o material é inerte, ou seja, não traz risco de contaminação, ele pode ser tratado como entulho. Para que fosse depositado na margem de um rio, só com um plano de drenagem e de monitoramento, o que não parece ser o caso, pelo que está sendo contado”, afirmou.

A limpeza da cidade se restringe à área urbana. Para as áreas rurais, e também para o distritos da cidade que foram atingidos, o vereador Leleco Rosário (PMDB), que encabeça o diálogo da cidade com a mineradora Samarco, diz que, até o momento, não foi feito um plano de limpeza. “Estão estudando jogar um produto para misturar com a lama e ver se a vegetação vai crescer”, afirma. 

Perda de gado. 
A lama seca nas margens do Rio do Carmo, antes e depois do centro de Barra Longa, tem pelo menos 1 metro de altura. “Tem gente perdendo o gado por sede. Em Gesteira, a lama ainda está no centro”, diz o pintor Luís Aparecido Rocha, de 39 anos.

Questionada sobre o assunto, a Samarco encaminhou nota destacando a provisoriedade da situação. “O rejeito retirado da área está sendo levado temporariamente para o Parque de Exposições da cidade, em local seguro. A Samarco vai fazer o devido tratamento do material. A empresa também está buscando áreas autorizadas para depositar o rejeito restante”, diz o texto. A empresa também foi questionada sobre o que fará com a lama nas margens dos rios, mas não respondeu.


Fonte:

terça-feira, 24 de novembro de 2015

TRAGÉDIA COM O RIO DOCE


O brasileiro é um serial killer de rios, lagoas e mares.

No sábado (21) passado, ao final da manhã, sobrevoei próximo à foz do rio Doce no momento em que a fatídica lama da represa rompida em  Mariana chegava ao mar. Visto de dez mil metros de altura e registrado nas fotos que tirei, o rio se assemelhava a um filete de sangue escorrendo na superfície do planeta azul.

A fatídica e espetacular viagem da lama ao longo de quase 800 km de Minas ao mar desde o dia 5 passado, foi na verdade o golpe de misericórdia no Doce. A morte do Doce nos comove pela rapidez e forma catastrófica com que se consumou. Explico.

Não tenha ilusões, o rio Doce não era tão idílico quanto parecia ser antes do desastre final. De acordo com o ranking do IBGE de 2012, o Doce era o décimo mais poluído rio em nosso país apresentando um alto nível de resíduos químicos provenientes de mineradoras e de pesticidas usados nas propriedades rurais.

O Doce já agonizava, como de uma forma ou de outra agonizam os quase 12 mil rios que integram as nossas 196 bacias hidrográficas e que vão de ano a ano se transformando em rios zumbis pela pressão, incúria e predação que nós brasileiros os tratamos.
O laqueamento catastrófico da calha do rio Doce, que equivale ao holocausto do ecossistema da bacia do Vale do Rio Doce, ganhou visibilidade exemplar e em profundidade pelas reportagens e pelas conversas em redes sociais. Foi o primeiro rio no Brasil do qual assistimos a morte como se fosse um reality show. Foram quinze dias de agonia acompanhando o caminho da lama ao mar.

Como sempre em um desastre a causa é uma conjunção de fatores. Com justa razão clamamos por culpados. Certamente a espetacularização da morte do Doce tem na primeira fila dos responsáveis a incompetência das mineradoras e a disfuncionalidade do governo.

A lista de culpados pode ser ampliada às custas de especulações de ordem ideológica. Por exemplo, você pode mandar para o banco de réus desde a “herança maldita do FHC”, o ex-governador Aécio Neves, pode salientar que isto é efeito da “privataria tucana” que entregou às multinacionais nossas riquezas minerais no contexto de uma conspiração internacional, a qual obviamente contou com o concurso da “grande mídia” e especialmente com o apoio do “partido da imprensa golpista”, também conhecido como PIG.

Se você é mais, digamos, à direita, isso é, um neoliberal, você pode culpar a esquerda, o PT, a presidente, o governador de Minas, o aparelhamento e ou sucateamento das agências de regulação e fiscalização das administrações bolivarianas Lula  e Dilma. E, é claro, o Zé Dirceu!
  
Claro, no Brasil, as pessoas inteligentes e esclarecidas não se esquecem nunca de colocar a culpa na ganância das empresas, nas elites e no capitalismo.

Ocorre que exatamente sob o sistema capitalismo vão ocorrendo no exterior avanços consideráveis em termos de despoluição sistemática de grandes rios, lagoas e baías desde os anos 60. Como por exemplo, o Sena em Paris, o Tâmisa em Londres, o Reno na Alemanha, o Han e o Cheonggyecheon na Coréia do Sul, a baía de Estocolmo, etc. etc.

Ocorre que nós, os brasileiros, como um todo, ricos e pobres e de classe média, de esquerda e de direita, empresários e sindicalistas, intelectuais e analfabetos, brancos e pretos, católicos e protestantes, evangélicos e ateus, temos uma vaga ideia do que seja o uso sustentável de rios e mares. Na verdade, pouco ligamos para isso.

Para o brasileiro, rios têm basicamente dois tipos de usos: barragens para gerar energia elétrica e vazadouros que servem para conduzir para mais longe de nós mais variados tipos de rejeitos, sejam orgânicos, tóxicos, lixo, resíduos químicos, pesticidas, colchões, pneus, restos de construção ou merda pura de milhões de seres humanos.

O senso comum do brasileiro não liga muito rios à água potável. Uma das primeiras coisas que o gringo aprende ao desembarcar no Brasil é que nosso “normal” é que a água de torneira não é potável, sendo que nos países verdadeiramente desenvolvidos bebe-se água da torneira, inclusive nos restaurantes.

Mas aqui o absurdo parece não ter limites: um executivo amigo meu e sua família há mais de trinta anos só consomem água mineral engarrafada. Mesmo famílias morando em favelas do Sudeste já se abastecem de água potável comprando garrafão de água mineral. E nem pense em pedir água torneira em restaurante brasileiro. É no mínimo uma gafe.

A maior prova de que o brasileiro se rala para o estado calamitoso das águas no Brasil é a naturalização com que paulistas convivem cotidianamente com a presença conspícua e infame do Tietê, o mais poluído rio do Brasil, e do rio Pinheiros. Isso na região que gera 40% do PIB nacional.

Igualmente os cariocas e fluminenses se acostumaram com o fato de que magnífica baía da Guanabara tornou já há décadas virtualmente uma cloaca, industrial e residencial, a serviço de uma região metropolitana de 12 milhões de habitantes. Mesmo os afluentes moradores de Ipanema, Leblon e do restante da zona sul parecem estar resignados com o fato da Lagoa Rodrigues de Freitas ser apenas um belo cartão postal.

No restante do país essa naturalização do envenenamento e do desprezo pelos rios é exatamente o mesmo. Falemos de meu estado natal, Minas Gerais. Ali a principal atividade econômica sempre emporcalhou sistematicamente seus rios desde o século XVII com os mais variados tipos de mineração e extração de recursos minerais. Afinal o nome do estado é Minas Gerais, uai!

Na região Metropolitana de BH, também chamada de Zona Metalúrgica, os rios estão todos e sem exceção mortos, incluindo o Rio das Velhas, outrora um grande rio. Esse em compensação está na tal lista do IBGE dos dez mais poluídos do Brasil. É o progresso. E o Arrudas? O ribeirão que cortava BH, desde os anos 60 como um fluxo de esgoto imundo e obsceno, sumiu! Foi escondido dos nossos olhos nos anos 80 por grandes lajes que servem também como piso de vias de tráfego congestionadas cronicamente.

Os pernambucanos seguem contando a velha anedota sobre sua aristocrática ascendência sobre o restante do Nordeste dizendo que “ o Atlântico é formado pelo encontro do Capibaribe com o Beberibe”. Dizem ainda que “Recife é a Veneza brasileira”. Entretanto, os pernambucanos sinceros caçoam e admitem que dado o nível de poluição de seus rios Recife é na verdade a “venérea brasileira”.
Nas capitais e cidades igualmente no Norte e Nordeste a urbanização feita ao redor dos rios sistematicamente emulou o modelo de relacionamento pervertido São Paulo-Tietê.

Nem mesmo o próspero e mais educado Sul se livrou da tara brasileira de assassinar sistematicamente os cursos de água e lagoas. Tampouco os gaúchos, com seu superior Índice de Desenvolvimento Humano e pretensões de superioridade cultural sobre o resto do país, podem se gabar. O Porto é Alegre, mas nem pense em nadar no Guaíba, pois o rio segue recebendo toneladas diárias de esgoto in natura. Quem se importa?

Mostre-me que estou errado e exagerando. Basta apontar um único curso de água, seja rio, riacho ou mesmo lagoa em uma de nossas 5.565 cidades que tenha sido despoluído.

Mas não nos basta assassinar os rios. O brasileiro parece ter em seu DNA a repulsa por águas limpas na natureza, sejam doce ou salgada. Do Oiapoque ao Chuí, praias urbanas tem um nível de presença de coliformes fecais muito acima do considerado civilizado dado o estágio em que nos encontramos de tecnologia ambiental e de saneamento. Nas praias urbanas o brasileiro nada ainda em meio ao o lixo sobrenadante, com destaque para as embalagens PET e sacos plásticos.

Não acredito que a comoção frente à trágica morte do rio Doce vá mudar a cultura predatória do brasileiro. Até o final do ano novas tragédias, atentados, crises e fofocas vão deixar no passado remoto a tragédia de Mariana.

Rios limpos não são uma questão de apelo cotidiano para nós brasileiros. Qualquer tentativa de ir na contramão desta psicótica tendência acaba soando quixotesca e fadada ao insucesso, como comprova o fechamento recente e melancólico da ONG  SOS Rios do Brasil.

Para o brasileiro, especialmente do ponto de vista de nossos governantes, sem exceção desde o regime militar, a questão crucial é que os grandes rios, limpos ou mesmo imundos, continuem correndo para megabarragens de forma a garantir geração de energia elétrica.

Mas a natureza está se vingando e vai acelerar o processo de eutanásia dos nossos rios.
O relatório Brasil 2040: Cenários e Alternativas de Adaptação à Mudança do Clima, produzido para a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República por pesquisadores de várias instituições de renome, entre elas o Instituto Nacional de Pesquisas Aeroespaciais (INPE), traz péssimas notícias: a vazão dos rios brasileiros ao longo deste século deverá cair acima de 20% chegando até a 90% de redução em algumas bacias hidrográficas.
                                Descansa em paz, Rio Doce!
Fonte:

sábado, 21 de novembro de 2015

QUAL O VALOR DE UM RIO?


A CAMISINHA E MARIANA



Observando a descida rio abaixo da lama despejada pelo rompimento da barragem em Mariana me ocorreu uma pergunta: quanto vale um rio? E aí me veio à lembrança uma conversa que tive em 1981, quando ainda era estudante de pós-graduação.

Foi numa mesa de restaurante, no hospital onde estudava em Nova York. Éramos cinco ou seis estudantes de pós-graduação. Tínhamos saído de uma reunião do corpo clínico do hospital. Havíamos discutido os primeiros cem casos de pacientes com o que viria a ser chamado de aids. Esses pacientes, todos homossexuais do Village, haviam morrido de maneira horrível, com todos os tipos de infecções decorrentes da aids. Na época já sabíamos que a doença era transmissível. Não se tinha certeza se havia um vírus associado a ela, não havia teste confiável, e os primeiros medicamentos estavam anos no futuro.

A conversa na mesa era de cunho prático. Com a aids se espalhando rapidamente por Manhattan, debatíamos se deveríamos mudar nossos hábitos sexuais. Éramos de uma geração que havia perdido o medo das doenças sexualmente transmissíveis (na época todas curáveis) e adeptos da pílula anticoncepcional e do amor livre. Havíamos crescido após a revolução sexual dos anos 60.

Parte da mesa argumentava que não mudaria seu comportamento: a probabilidade de um estudante heterossexual contrair a doença em um encontro ocasional era zero. A doença ainda era rara, só afetava homossexuais e só um grupo altamente promíscuo. Como o risco era zero, não iriam se submeter ao desconforto de uma camisinha. O segundo grupo concordava que o risco de contrair a doença era baixíssimo, quase zero, mas não era zero, e a consequência de um contágio era a morte certa após um sofrimento horrendo, como havíamos visto naquela manhã. Estes haviam decidido adotar a camisinha.

Depois de muita discussão chegamos à conclusão que usar ou não camisinha dependia do resultado de uma multiplicação entre dois números desconhecidos. O primeiro era a probabilidade de contrair a doença em um único ato sexual (vamos chamar de P, que varia entre 0 e 1), e o segundo é o valor que atribuímos à nossa vida (vamos chamar de M). Se o produto dessa multiplicação fosse igual a zero, não deveríamos usar camisinha. Para isso ocorrer, P ou M tem de ser zero. Se P é zero, não existe a hipótese de se contaminar, e se M é zero, você acredita que sua vida vale zero e assim o valor de P é irrelevante. Mas, se esse número se aproximasse de M, a camisinha era indispensável. Agora leitor, pegue um papel e faça as contas. Você verá que, se o valor que atribuímos à nossa vida beira o infinito, mesmo valores de P próximos a zero são inaceitáveis.

Tudo isso para dizer que construir barragens para conter resíduos letais próximo da cabeceira de um grande rio é o equivalente a fazer sexo sem camisinha. Ou você tem certeza de que a probabilidade de rompimento é zero, e aí o valor que atribuímos ao rio, sua biodiversidade e seus serviços ambientais é irrelevante, pois eles jamais estarão em risco, ou você sabe que o risco, apesar de baixo, não é zero e sua decisão de permitir ou não a construção desse tipo de barragem vai depender do valor que você atribui à vida desse rio.

No passado, o valor atribuído pela sociedade a um rio era baixo e os benefícios econômicos desse tipo de projeto facilmente justificavam o risco. Mas, à medida que o tempo passa e vamos destruindo nossa querida Terra, o valor que atribuímos aos rios e ao meio ambiente tem aumentado. Por isso, riscos que eram aceitáveis agora são impensáveis.

Em outras palavras, provavelmente todas as barragens desse tipo terão de ser desativadas. E essa não é uma decisão muito diferente da que foi tomada pela Alemanha, que com base no que aconteceu em Fukushima, no Japão, resolveu desativar seus reatores nucleares, mesmo sem ter sofrido um único acidente. Eles concluíram que o risco não era zero e as consequência beiravam o infinito.

Pelo mesmo motivo que decidimos pelo uso da camisinha, a Alemanha decidiu desativar seus reatores nucleares e nossas mineradoras terão de desmontar as armadilhas que estão na cabeceira dos rios. O risco desses projetos é baixo, mas o valor do que é ameaçado beira o infinito.


Fonte:




domingo, 15 de novembro de 2015

LAMA NOS ECOSSISTEMAS CAPIXABAS

ENXURRADA DE LAMA TIRA VIDA DOS ECOSSISTEMAS

 

Rejeitos avançam pelo Rio Doce; inventário de prejuízo ambiental deve levar anos.


Dez dias depois do rompimento das barragens de rejeitos da mineradora Samarco - de propriedade da Vale e da australiana BHP Billiton -, na região de Mariana (MG) o cenário é de devastação e desesperança em toda a área atingida, que se estende por centenas de quilômetros. O impacto da enxurrada de 62 milhões de m³ de lama avança rumo ao oceano e deixa um rastro de destruição. O inventário dos prejuízos sociais e ambientais ainda está apenas começando, mas, de acordo com especialistas, os ecossistemas atingidos estão irreversivelmente comprometidos.

Embora as empresas responsáveis sejam obrigadas pela Constituição Federal a pagar a recuperação total dos estragos ambientais, neste momento, nem elas nem o governo ou cientistas sabem como será possível fazê-lo.


Se o impacto ambiental é ainda desconhecido e a recuperação inimaginável, suas consequências são bem concretas para quem as sente na pele. Em um pequeno pasto na margem do Rio do Carmo em Barra Longa (MG), Gilson Felipe de Rezende, de 42 anos, cuida de cerca de 15 cabeças de gado. É uma área de menos de um hectare, que até então tinha como vantagem justamente o rio, fonte farta de água para o gado. Fica a exatos 71 quilômetros de distância do ponto em que as barragens da mineradora Samarco romperam. E está coberto de barro.

Mesmo a essa distância, a lama foi capaz de formar ali uma "casca" nas margens e no fundo do rio, que chega a um metro de espessura - tanto do lado do pasto de Rezende como na margem oposta. O curso d’água em que, antes, era possível navegar de canoa, virou um rio raso. Nessa crosta de lama, os peixes aparecem aos montes, grudados no chão, como se fossem fósseis. Toda a região tem um forte cheiro de carniça.
"Tinha umas 50 capivaras que ficavam por aqui. Desde que a barragem rompeu, só vimos uma", conta Rezende, apontando para as pegadas que o rodeor deixou na lama, já endurecida e esbranquiçada por causa do sol forte e do calor da região.

A cena impressiona mais quando ele conta como a lama chegou: quando a enxurrada, que vinha do Rio Gualaxo do Norte, desaguou no Rio do Carmo, seguiu tanto pelo fluxo normal da água quanto no sentido oposto.
“A lama avançou contra a correnteza”, explica. E avançou quase um quilômetro contra a água, até formar uma espécie de represa. Agora, ao chegar perto de Barra Longa, o Rio do Carmo tem parte de seu curso desviado para o mato. O que segue é um fio de água ao redor das margens de lama grossa.
“Perdi uma vaca naquela noite, quando a lama chegou. Quase perdemos outra no dia seguinte, atolada na lama, mas conseguimos salvar”, contra o serralheiro, enquanto caminha sobre a lama seca, tão alta que praticamente encobre as cercas que dividiam a propriedade que ele cuida da terra vizinha. “Era uma vaca que tirava 15 litros de leite por dia”, lamenta, ao se recordar do bovino perdido.
Todo o rebanho, entretanto, está em risco. A água dos animais era o próprio rio. "As duas nascentes que têm por aqui secaram. Vai demorar uns 10 anos para isso voltar a ser como era."

Talvez demore mais. De acordo com Carlos Alfredo Joly, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), dificilmente será possível reverter o impacto da lama na biodiversidade.
“Os rejeitos que se acumulam nas margens dos rios são feitos de um sedimento fino, que altera a composição original do solo, tornando-o mais compacto. Com isso, as matas ciliares serão afetadas. A vegetação perto das margens morrerá e a modificação no solo matará também as árvores que não foram carregadas pela enxurrada de lama, abrindo grandes clareiras, com impactos em todo o ecossistema”, disse Joly.

Enquanto isso, segundo o cientista que coordena o Programa Biota, da Fapesp, a perda de oxigênio da água condenará a fauna dos rios, afugentando ou dizimando os animais que se alimentavam dela. "Pode ser até que a floresta se recupere, mas vai demorar mais que o tempo de uma vida. Nenhum de nós viverá para ver a vegetação voltar a ser como era", afirmou. De acordo com ele, dificilmente as técnicas conhecidas de reflorestamento funcionarão para uma área tão vasta e com um impacto tão severo, já que a lama dificilmente pode ser removida. 

Pesca. Para quem vive da pesca no Rio Doce, a situação é dramática. O pescador Eli da Silva Soares, o Paco, de 38 anos, percorre de barco parte da região afetada e aponta os peixes que agora flutuam mortos no rio. "Aquele ali é um tucunaré. Tem peixe aqui aparecendo que a gente pensou que nem existia mais. Mas como a gente vai fazer agora? Isso aqui está tudo morto. Vai levar muito tempo para poder pescar de novo", afirmou. 

Vivendo em uma vila a 50 metros do rio, no município de Governador Valadares (MG), Paco e sua família conseguiam R$ 1 mil mensais com a pesca. Durante o passeio pelo cenário sem vida, ele e as irmãs Elaine, de 36, e Eliane, de 39 anos, expressam falta de esperança pela recuperação da área. "Isso não vai recuperar nem daqui a cinco anos", diz o pescador, endossado pelas irmãs. "A gente vive disso aqui e agora não tem nem o que fazer", reforça Elaine. 

De cima, a água laranja do Rio Doce parece estática. A lama de rejeitos se move a cerca de 1,2 quilômetro por hora desde o dia 5, quando aconteceu a tragédia, e vai percorrer toda a calha de 853 quilômetros entre o município de Rio Doce, em Minas, até Regência, vila do município de Linhares (ES), onde encontra o Oceano Atlântico. De perto, é mal cheirosa e, mesmo distante mais de 230 quilômetros do ponto de rompimento das barragens, carrega pedaços de árvores e detritos arrancados durante o trajeto. A expectativa é que a onda atinja o oceano neste fim de semana, levando mais problemas de abastecimento a cidades capixabas. 

Oceano. Segundo Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), quando a água poluída do rio chegar ao estuário - que normalmente acumula sedimentos finos -, a decantação de um sedimento diferente do natural terá impacto intenso na fauna marinha.
"Mais turva, a água não deixará passar a luz e impedirá a fotossíntese das algas no fundo, afetando também o plâncton. Esses organismos são a base da cadeia alimentar e sua perda terá impacto em todos os organismos marinhos. Os peixes morrerão ou fugirão para outros lugares, afetando severamente a pesca local", afirmou.

A areia das praias capixabas terá suas características modificadas, de acordo com o pesquisador. "A lama poderá transofrmar a cor e a textura das areias das praias capixabas, modificando a sensação de anda sobre ela. Além do impacto na biodiversidade, teremos consequências graves para o turismo", disse Turra.

Efeito crônico. Segundo ele, cada vez que uma chuva forte atingir o vale do Rio Doce, mais lama endurecida se dissolverá e escorrerá novamente para o mar. Isso deverá gerar problemas de abastecimento para as cidades mineiras e capixabas ao longo de anos. "Haverá um efeito crônico, persistente", disse.
"Além desses prejuízos, essa região é uma das mais biodiversas na costa brasileira - e é uma importante área de reprodução de tartarugas marinhas. Os ecossistemas formados pelos corais, muito sensíveis, poderão ser afetados.

Não sabemos ainda se a mancha de lama poderá chegar até Abrolhos", declarou Turra.
Ninguém sabe ainda exatamente como recuperar o assoreamento dos rios da região. "Talvez um caminho seja aprofundar o canal dos rios com dragagem, mas será um trabalho hercúleo. Se uma caçamba tirar meio metro cúbico por vez, precisaremos de 130 milhões de caçambadas. Algo inimaginável", afirmou Turra.

Impacto cumulativo. De acordo com José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia (IIE), os impactos ainda estão longe de ser avaliados em sua totalidade. "Há um impacto visual evidente. Mas há também toda uma série de alterações que só será mensurável a partir de análises da qualidade da água nos ecossistemas atindidos. Também não sabemos a magnitude do impacto cumulativo. Por isso não sabemos quanto tempo ele vai durar. Poderá haver alterações importantes em aspectos da bacia hidrográfica que ainda não foram identificados", disse Tundisi.

Segundo Tundisi, ainda não é possível saber como recuperar os rios. O que se sabe com certeza é que eles sofrerão muitas mudanças físicas, químicas e biológicas. "Isso já ocorreu. Para recuperar vai ser muito difícil. Talvez até seja possível restaurar a parte morfológica, removendo os sedimentos em uma megaoperação. Mas a provável contaminação da lama por metais terá consequências em cascata, porque vários animais se alimentam de outros que foram contaminados. Esse ciclo alimentar chega até o ser humano, com efeitos cumulativos. Ignoramos também se essa contaminação química atingiu os lençóis freáticos", disse.
"Não sabemos como isso vai ser recuperado. Não temos tecnologia disponível para enfrentar um impacto dessa magnitude. Certamente levará muito tempo e custará muito caro resgatar as características funcionais desses rios", declarou Tundisi.


Fonte:

sábado, 14 de novembro de 2015

QUANDO O PARAÍSO VIRA UM INFERNO

ELES ABANDONARAM O PARAÍSO

 O lugar é lindo, a comida, abundante, o ambiente cultural efervescente. Um verdadeiro paraíso. Mas um belo dia, como se decidissem que não valia mais a pena viver ali, os habitantes resolvem partir. O ano, 1285, o local, Mesa Verde.

Quem visita Mesa Verde fica boquiaberto. Vilas inteiras encravadas nas encostas verticais de imensas montanhas. No platô acima e no vale logo abaixo, a vegetação é abundante. A vista das casas é maravilhosa. O local é seguro. Acesso, só com escadas de madeira. Este local, que fica onde hoje os Estados de Utah, Colorado, Arizona e Novo México se juntam, foi ocupado por uma população de agricultores por volta dos anos 600.

Esse paraíso foi abandonado abruptamente 700 anos depois, por volta de 1285. E nunca mais foi habitado. Os descendentes dessa população vivem até hoje no sul do Novo México, não estão extintos, somente se mudaram. Em 1996, quando visitei o parque nacional de Mesa Verde, ninguém sabia o que tinha acontecido. Agora esse enigma foi parcialmente esclarecido.

Três linhas de investigação contribuíram para desvendar o mistério. A primeira foi um mapeamento das datas em que as construções foram erguidas. Isso foi possível analisando os anéis de crescimento nos troncos usados nas construções. Essa sequência temporal permitiu mapear cada casa e cada reforma com precisão de alguns anos. A segunda linha de investigação foi a identificação de todas as 18 mil ruínas espalhadas pela região. A data de construção de cada sítio arqueológico e sua posição foi relacionada ao padrão climático. A partir desses dados, foi possível calcular não só a população a cada ano, mas a quantidade de comida produzida. A terceira linha de investigação foi a análise dos esqueletos enterrados em cada década.

Analisando os esqueletos é possível estimar o nível de violência. Juntando todos esses dados, os cientistas tentaram reconstruir o que aconteceu durante os 700 anos em que seres humanos habitaram Mesa Verde. 

Durante os primeiros 400 anos, até aproximadamente o ano 1000, os habitantes viviam nos platôs em construções simples, próximas dos campos cultivados. Nesse período, a população cresceu de 5 mil para 7 mil pessoas e a violência praticamente não existia. Os esqueletos não mostram sinais de agressão.

Nos anos seguintes, a população explodiu para 30 mil habitantes e foi possível detectar grandes flutuações no tamanho da população. Essa flutuação parece estar correlacionada a períodos de grandes secas e chuvas abundantes. Foi nessa época que a população deixou as casas simples, próximas das plantações, e construiu as vilas incrustadas nos penhascos.

Nesse período aumenta o número de esqueletos que sofreram morte violenta.
A maior cidade de Mesa Verde se localiza em um local mais alto, onde os estudos climáticos demonstram que as secas periódicas são menos frequentes, talvez a única região capaz de produzir alimentos nos anos de seca e provavelmente a mais disputada.

Tudo indica que o meio ambiente local não foi capaz de suportar a população que aumentava rapidamente. Talvez surtos de fome, provocados pelas secas, tenham contribuído para o aumento da violência e para a construção de vilas fortificadas nas laterais das montanhas.

Esse processo atinge um pico em 1270, quando ocorre uma grande seca. Nos 15 anos seguintes, a população abandona a região. 

A conclusão é que o aumento de população, práticas agrícolas não sustentáveis e flutuações climáticas geraram instabilidade social, violência e a construção de cidades protegidas. Chegou um momento em que a tensão foi demais. E a migração em massa começou. O paraíso que era Mesa Verde tinha se transformado em um inferno.

Esse fenômeno migratório, que aconteceu muito antes da descoberta da América pelos europeus, não é muito diferente do que estamos observando na Europa e na África de hoje. Diversos paraísos ao redor do planeta estão se transformando em infernos. E por razões não muito diferentes. Mas, se a Terra toda se transformar em um inferno, não teremos para onde ir.

MAIS INFORMAÇÕES: AND THEN WERE NONE. NATURE VOL. 527 PAG. 26 2015

Autor: FERNANDO REINACH É BIÓLOGO


terça-feira, 10 de novembro de 2015

APRESENTAÇÃO FECIMA 1º AO 5º ANO

Abaixo, algumas fotos das apresentações de hoje do projeto:

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA ATRAVÉS DE ATIVIDADES EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS.


Participaram das apresentações as turmas do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental I da EMEF Dora A. Silvares. Esta havendo um revezamento para que o máximo de alunos (as)  possam ter a possibilidade de apresentar a pesquisa.













segunda-feira, 9 de novembro de 2015

APRESENTAÇÃO FECIMA 6° AO 8º ANO

Abaixo, algumas fotos das apresentações de hoje do projeto:

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA ATRAVÉS DE ATIVIDADES EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS.


Participaram das apresentações as turmas do 6º ao 8º ano do Ensino Fundamental II da EMEF Dora A. Silvares. Amanhã, pretende-se apresentar para os alunos do 1º ao 6º ano. Os alunos foram convidados a fazer uma redação sobre o que entenderam das explicações.






A








quinta-feira, 5 de novembro de 2015

APRESENTAÇÃO I FECIMA

DIA 26/10, OCORREU MAIS UMA APRESENTAÇÃO DO PROJETO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL, ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA ATRAVÉS DE ATIVIDADES EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS, NA EMEF JOÃO PINTO BANDEIRA PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA).

NOS DIAS 09 E 10/11, PRETENDE-SE APRESENTAR O PROJETO NA EMEF DORA PARA ALUNOS DO 1º AO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL.

POR FIM, ESPERA-SE FINALIZAR A APRESENTAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, CAMPUS DE SÃO MATEUS-ES EM DATA A DEFINIR.


ABAIXO, DUAS FOTOS NO JOÃO PINTO BANDEIRA.



quarta-feira, 4 de novembro de 2015

CRONOGRAMA AVALIATIVO 7° ANO

                                  CRONOGRAMA AVALIATIVO
EMEF JOÃO PINTO BANDEIRA          SÃO MATEUS/ES
EJA: EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
                                          CURSO: NOTURNO

                                          2º BIMESTRE/2015
7ºs anos/EJA – noturno JPB
NOTAS
CONTÉUDOS
VALOR
DATA
PROVA ÚNICA
SISTEMA CIRCULATÓRIO

SISTEMA DIGESTÓRIO


4,0


30/11
TRABALHO
 MATA    CILIAR
2,0
Á DEFINIR
ESTUDOS DIRIGIDOS
SISTEMAS DO CORPO
2,0
Á DEFINIR
CADERNO
AULAS 2º BIMESTRE
2,0
A DEFENIR





CRONOGRAMA AVALIATIVO 6º ANO

                                 CRONOGRAMA AVALIATIVO
EMEF JOÃO PINTO BANDEIRA          SÃO MATEUS/ES
EJA: EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
                                          CURSO: NOTURNO

                                          2º BIMESTRE/2015
6ºs anos/EJA – noturno JPB
NOTAS
CONTÉUDOS
VALOR
DATA
PROVA ÚNICA
PEIXES
ANFÍBIOS
RÉPTEIS

4,0

01/12
TRABALHO
MATA CILIAR
2,0
Á DEFINIR
PROJETO
CONSCIÊNCIA NEGRA
 2,0
Á DEFINIR
CADERNO
AULAS 2º BIMESTRE
2,0
À DEFENIR

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