CARÊNCIAS NUTRICIONAIS
A má nutrição não é problema somente de pessoas que pertencem às classes sociais desfavorecidas. Países ricos e indivíduos pertencentes a classes mais favorecidas também apresentam problemas de saúde direta ou indiretamente relacionados a uma alimentação deficiente, como: doenças crônicas não transmissíveis – obesidade, hipertensão arterial, câncer e diabetes – entre outras. A repercussão da má nutrição entre as pessoas mais desfavorecidas foi, por longo período, caracterizada pela desnutrição, pela magreza excessiva e menor resistência às infecções. Esta relação tem se modificado, especialmente nas últimas décadas em que prevalências crescentes de excesso de peso podem ser observadas entre pessoas pertencentes às camadas mais pobres da sociedade. A carência de micronutrientes, reflexo das contradições alimentares do nosso país, pode ser observada independente das condições socioeconômicas e pode ser encarada como um problema ainda presente e bastante complexo.
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde a má nutrição deve ser considerada em toda a sua extensão, repercussão na saúde e estado nutricional e não apenas como responsável pela desnutrição.
Carências Nutricionais Específicas
A carência de determinados micronutrientes pode provocar uma série de doenças e seqüelas. Os principais micronutrientes cuja falta no organismo trazem graves consequêcias à saúde são:
· Iodo
É essencial para o funcionamento da tireóide, a glândula que produz os hormônios do crescimento e de controle calórico. Os Distúrbios por Deficiência de Iodo (DDI) constituem a principal causa de problemas cerebrais evitáveis no feto e na primeira infância e de desenvolvimento psicomotor retardado em crianças pequenas. A carência de iodo também provoca o bócio, expansão da tireóide, popularmente conhecida como “papo”. A principal estratégia da OMS para o controle da DDI foi a iodação do sal, adotada pela Assembléia Mundial da Saúde em 1993 e definida como meta da Cúpula Mundial da Criança em 1995.
· Ferro
É o mineral necessário para o transporte de oxigênio no sangue. A carência de ferro é o distúrbio nutricional mais comum em todo o mundo, afetando tanto os países industrializados quanto as nações em desenvolvimento. A anemia por deficiência de ferro (anemia ferropriva) prejudica o desenvolvimento psicomotor, a coordenação e o aproveitamento escolar, além de diminuir a atividade física e a capacidade de trabalho. Em mulheres grávidas, a carência de ferro leva à anemia, que é associada a maiores riscos de morbidade e mortalidade maternal e fetal, além do crescimento intra-uterino retardado.
As principais fontes de ferro são as carnes vermelhas, principalmente fígado de qualquer animal e outras vísceras, como rim e coração; carnes de aves e de peixes. Entre os alimentos de origem vegetal, destaca-se como fonte de ferro, os folhosos na cor verde-escura (exceto espinafre), como o agrião, couve, cheiro-verde, taioba; as leguminosas (feijões, fava, grão-de-bico, ervilha, lentilha); grãos integrais ou enriquecidos; nozes e castanhas, melado de cana, rapadura, açúcar mascavo. O açaí é uma fruta muito rica em ferro. Também existem disponíveis no mercado alimentos enriquecidos com ferro como farinhas de trigo e milho, cereais matinais, entre outros.
As necessidades diárias de Ferro variam conforme a idade, o sexo e a fase fisiológica da vida de cada indivíduo. Os homens adultos necessitam de 10 mg/dia, as mulheres adultas requerem 18 mg/dia, gestantes requerem 30 mg/diárias, e crianças variam de 6 a 12 mg/dia.
· Vitamina A
É necessária para várias funções no organismo, incluindo a visão e a proteção contra infecções. A hipovitaminose A, ou deficiência de vitamina A (DVA), é a principal causa de cegueira evitável no mundo. A partir da segunda metade da década de 80 surgiram evidências no Brasil que a carência sub-clínica de vitamina A sem sinais como xeroftalmia, mancha de Bitot e ceratomalacia também pode contribuir para a morbidade e mortalidade em crianças, recém nascidos e mulheres em idade fértil, puérperas e nutrizes, os grupos tradicionalmente considerados de risco. Atualmente, sabe-se que, em função de sua atuação no olho e no ciclo visual, a DVA pode tornar mortais doenças como o sarampo, considerada parte do histórico de saúde de crianças normais. De fato, a DVA pode provocar quadros de imunodeficiência de origem exclusivamente nutricional.
A recomendação de vitamina A é de 900 microgramas para homens e 700 para mulheres.
As principais fontes de vitamina A são: Fígado, manteiga, leite, gema de ovos, sardinha, óleo de fígado de bacalhau, abacate, acelga, caju, pêssego, mamão, escarola, melão, cenoura, brócolis, batata-doce, couve, espinafre, abóbora, tomate, manga.
Os beta-carotenos (pró-vitamina A) são liposolúveis, portanto a absorção de vitamina A é melhorada se estes alimentos forem ingeridos juntamente com gorduras (como óleos vegetais). O cozimento por alguns minutos, até que as paredes das células se rompam e liberem cor também aumentam a absorção.
· Cálcio
Cerca de 99% do cálcio está localizado nos ossos e dentes, é o mineral mais abundante no corpo humano. Além de formar e manter o esqueleto participa do processo de coagulação sangüínea, contração muscular, secreção de hormônios, regulação de reações enzimáticas, sendo fundamental para a comunicação entre as células. Sua necessidade é maior na adolescência, na gravidez e lactação e na terceira idade.
O consumo inadequado de cálcio na dieta está associado a uma série de distúrbios crônicos, dos quais o mais comum é a osteoporose, doença que geralmente acomete mulheres no climatério, de grande impacto tanto na saúde pública como socioeconômica, em função de seus altos custos diretos e indiretos. Além disso, com o aumento da expectativa de vida, cresce também o número de idosos e de fraturas osteoporóticas, particularmente em mulheres. No grupo etário de 50 anos, verificam-se cinco mulheres acometidas por osteoporose para cada homem. Estas são especialmente vulneráveis, em decorrência da progressiva redução da função ovariana e, conseqüentemente, da produção de seus hormônios esteróides. Este processo inicia-se a partir dos 35 anos, quando a mulher apresenta redução lenta de massa óssea, acentuando-se após os 50 anos, momento em que comumente ocorre a menopausa.
Outro fator que pode tornar-se prejudicial à saúde óssea é o consumo dietético inadequado de cálcio, pois uma das principais deficiências nutricionais no climatério refere-se a este nutriente. Este fato compromete a mineralização e a manutenção óssea, promovendo, dessa forma, o agravamento da osteoporose. De fato, alguns estudos sobre consumo alimentar mostram que dos nutrientes avaliados, o cálcio é o que apresenta maior inadequação.
Além disso, vários estudos indicam que o consumo excessivo de proteína pode ter efeito deletério, seja por estimular as perdas excessivas de cálcio ou por acelerar a diminuição da função renal vinculada à idade. Este fato deve ser levado em consideração devido à redução progressiva de massa óssea, principalmente em mulheres pós-menopausa.
A recomendação da ingestão de cálcio diária na infância e adolescência de 1.300 ml, já na vida adulta, de 1.000 até 1.200 ml.
As principais fontes de cálcio são o leite e seus derivados e os vegetais verdes folhosos. A gema do ovo, os mariscos e as leguminosas (feijão, grão-de-bico e lentilha) também são fontes de cálcio.
· Vitamina D
Constitui um dos reguladores fundamentais do metabolismo do cálcio e do fósforo, por promover a absorção do cálcio, torna-se importante para o fortalecimento dos ossos. Sua deficiência ocorre quando as pessoas vivem em regiões frias, em ambientes fechados, com baixa exposição ao sol. A deficiência de vitamina D ocasiona atraso no crescimento, amolecimento do crânio, deformações ósseas, protrusão esternal, curvatura acentuada dos membros inferiores, malformação e envelhecimento precoce dos dentes, osteomalácia e raquitismo.
A recomendação da ingestão diária é de cerca de 10 mg ou 400 UI.
As principais fontes alimentares de vitamina D são: fígado, ovo, peixes de água salgada e sol (favorece a produção de calciferol pelo organismo).
· Ácido fólico
É uma vitamina do complexo B abundante nas folhas verdes presente em pequena quantidade em muitos alimentos vegetais e na totalidade dos alimentos de origem animal. A carência ocorre geralmente quando há uma dieta deficiente relacionada ao excesso de demanda.
A deficiência é comum em crianças de 1 a 3 anos de idade, pois o crescimento exige ácido fólico, gestante devido o crescimento fetal, alcoólatras (o álcool age como antagonista do ácido fólico no metabolismo).
Mulheres grávidas com carência de ácido fólico têm maior probabilidade de dar luz a bebês com má formação do tubo neural. Como o desenvolvimento do tubo neural ocorre nas primeiras semanas de vida intra-uterina, a prevenção da deficiência de ácido fólico deve ser feita na mulher em idade fértil.
A interação do ácido fólico com a vitamina B12 é indispensável para a proliferação dos glóbulos do sangue. A falta de ácido fólico causa uma anemia macrocítica idêntica a da falta de B12, mas não causa doença neurológica. Os pacientes perdem o apetite, o que faz piorar a dieta, por hipótese, já carente; há rápido emagrecimento. O tratamento com ácido fólico por via oral causa imediata melhora clínica; o paciente desenvolve um apetite voraz que corrige espontaneamente a dieta.
As necessidades diárias são de cerca de 200 μg
Fontes:
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)- Brasil;
MONTILLA, R. das N. G.; ALDRIGHI, J. M.; MARUCCI, M. de F. N. Relação cálcio/proteína da dieta de mulheres no climatério. Revista da Associação Medica Brasileira, São Paulo, v. 50, n. 1, 2004;
Ramalho, R. A.; Saunders, C.; O papel da educação nutricional no combate as carências nutricionais. Revista de Nutrição, Campinas 13(1): 11-16, 2000;
Ramalho, R. A.; Flores, H.; Saumderers, C.Hipovitaminose A no Brasil: Um problema de saúde pública. Revista Pan-americana de Saúde Publica/Pan AM J Public. Walt 12(2), 2002