A Convenção
Internacional sobre Diversidade Biológica considera uma espécie “invasora”
quando ela está fora de seu habitat natural e acaba ameaçando outros
ecossistemas. Mas, na maior parte dos casos, a culpa é do homem, que transporta
animais de um lugar para o outro sem pensar muito nas consequências. O resultado
disso é um crescimento anormal dos invasores. Sem um predador natural, a
espécie exótica se multiplica e sai destruindo o que encontra pela frente.
Conheça 10
exemplos de infestações animais que saíram do controle.
Ratazana (Rattus sp)
A ratazana (ou
rato-preto) é provavelmente o mamífero invasore mais bem sucedido do mundo.
Originário do sudeste da Ásia, o bichinho se espalhou pelo mundo inteiro
através dos tempos se escondendo em navios mercantes. Hoje em dia até aviões
sofrem com a infestação do animal, que se adapta bem a qualquer ambiente:
urbano ou rural.
Os ratos e
ratazanas do gênero Rattus causaram e ainda causam a predação de aves, répteis
e pequenos vertebrados e invertebrados, além de prejuízos à vegetação natural.
Não vamos nos esquecer que eles também são vetores de inúmeras doenças, entre
elas peste bubônica, leptospirose e tifo.
Tilápia-do-nilo (Sarotheredon
niloticus)
A
tilápia-do-nilo é um peixe nativo do rio Nilo, no Egito, que pode chegar a 60cm
de comprimento e pesar 4,3kg. Como característica única, o peixe tem listras
por toda a nadadeira. Em 1933, foi a primeira vez que alguém teve a genial
ideia de trazer a tilápia-do-nilo para o Brasil. Mais especificamente, para o
nordeste. Nas décadas seguintes, outras pessoas também fizeram a mesma coisa em
outras regiões do Brasil. Tudo isso para aumentar os lucros com a pesca.
O problema é
que a tilápia-do-nilo se reproduz muito facilmente, se adapta a qualquer
ambiente (inclusive em lugares com baixo oxigênio) e se alimenta de plantas e
animais: ou seja, uma receita perfeita para um grande predador, com histórico
de causar a extinção de outras espécies nos ambientes onde vivem. Hoje a
espécie infesta diversos rios no Brasil inteiro. Também é um problema na
Bélgica, Burundi, Camarões, China, Costa do Marfim, Indonésia, Madagascar,
Austrália, Estados Unidos, Nicarágua e Japão.
Abelha-africana
(Apis mellifera scutellata)
Nos anos 50, o
Ministério da Agricultura brasileiro teve a ideia de importar algumas
abelhas-africanas para estudar sua produtividade e compará-las com outras
espécies. O problema é que durante o estudo ocorreu um acidente e 26 colmeias
de abelhas-africanas, muito agressivas, foram liberadas no meio ambiente. Foi o
bastante par a espécie se espalhar por todo o continente.
Não foram só as
espécies nativas de abelhas que sofreram com a invasão. Pássaros, como tucano e
arara, foram expulsos de seu habitat natural por conta das abelhas-africanas,
que são muito difíceis de controlar. Além disso, a picada da abelha-africana
pode ser fatal para pessoas e animais domésticos, dependendo do número de
ferroadas.
Caramujo-gigante-africano
(Achatina fulica)
Lá pelos anos
80, algum ser humano bem inteligentão pesou: nossa, ao invés do escargot,
porque a gente não tenta comer esse caramujo-gigante-africano aqui no Brasil?
Claro que o plano deu errado, porque além do fato de que essa espécie de
caramujo não é lá muito apetitosa, o bicho também é vetor de duas doenças
sérias para o sistema gástrico e nervoso. Quando os criadores se deram conta da
ideia fraca, eles fizeram o grande favor de soltar os
caramujos-gigante-africano no ambiente.
Acontece que
esse molusco originário da Nigéria pode chegar a 20 cm de comprimento e pesar
até 500g, é hermafrodita e realiza até cinco posturas de ovos por ano (cada
postura gera 50 a 400 ovos). O bicho também é super-resistente ao frio e à
seca, grande predador de plantas e competidor voraz de alimentos com outros
animais. Se você precisava de um forma física para a palavra praga, o
caramujo-gigante-africano é um excelente candidato ao título.
A infestação de
caramujos dessa espécie não rolou só no Brasil. No estado da Flórida, nos
Estados Unidos, eles tem uma infestação muito séria, que destrói áreas
agrícolas e causa doenças. O governo chegou ao ponto de uma campanha para
treinar cães labradores para caçar e matar os caramujos.
Píton-burmesa (Python molurus)
Se temos algum
motivo para comemorar é que pelo menos essa espécie invasora não chegou ao
Brasil. Mas se você está pensando em viajar para os Estados Unidos, a Flórida é
um lugar para se temer. Desde os anos 2000, o país tem problemas com essas
cobras gigantescas, que foram importadas para lá como animais domésticos. O
problema é que os criadores não tinham noção do tamanho que o réptil chega na idade
adulta: até 6 metros de comprimento (a píton-burmesa, aliás, é uma das 5
maiores espécies de cobra do mundo). Entre 1999 e 2004, cerca de 144 mil pítons
foram importadas para os Estados Unidos ainda filhotes. Quando os animais
começaram a crescer, eles fugiram ou foram jogados no meio ambiente pelos
donos.
Os cálculos de
hoje em dia são assustadores. São 150 mil pítons vivendo na Flórida e
destruindo todo o ecossistema. Elas não têm predador natural e comem
praticamente qualquer bicho, de cães a jacarés, sem discriminação. Foi só em
2012, com o estrago já feito, que o governo dos Estados Unidos percebeu
literalmente o tamanho do problema e proibiu a importação de pítons-burmesas.
Estava na hora, né?
Estorninho-comum
(Sturnus vulgaris)
O que acontece
quando alguém resolve levar uma espécie de pássaro para casa para que o país
tenha todas as aves mencionadas nas obras Shakespeare? Merda. Claro que ia dar
merda. Em 1890, o estorninho-comum, espécie originária da Europa, foi
disseminado em Nova Iorque
como parte desse plano brilhante de ter nos Estados Unidos todos pássaros que o
dramaturgo citava. Os animais se espalharam por todo país e hoje em dia causam
prejuízos anuais de 800 milhões de dólares para a agricultura. Além de destruir
lavouras, o passarinho também compete com espécies nativas e dissemina doenças
em humanos.
Sapo-cururu ou
sapo-boi (Rhinella sp.)
Não precisa
mudar a letra da cantiga de roda: o sap0-cururu ou sapo-boi não invadiu o
Brasil. Pelo contrário, ele é nativo da América do Sul, e convive bem com
outras espécies, sem causar problemas. Mas os anfíbios foram introduzidos em
outras regiões do mundo, tipo America do Norte, Austrália e Caribe, como uma
forma de controle de pragas biológico.
Acontece que o
sapo é enorme e voraz: chega a ter 15 centímetros de comprimento e pesa até 2
kg. Ele tem uma dieta bem ampla e sua pele é tóxica. Com isso, apesar de ter
tido bastante sucesso no controle de pragas, ele se tornou a própria praga. Uma
das armas do sapo é o veneno na pele, que mata o predador desavisado.
Coelho-europeu
ou coelho-comum (Oryctolagus cuniculus)
O
coelho-europeu é outro exemplo de espécie invasora que teve bastante sucesso no
projeto de dominar o mundo. A espécie é originária da Península Ibérica, e nos
seus países nativos é considerada vulnerável, nas classificação de risco de
extinção. Enquanto isso, no resto do mundo, o coelho-comum causa problemas
sérios ao meio ambiente. Um dos motivos é óbvio: eles se reproduzem com muita
rapidez. Quanto mais coelho existe, de mais comida eles precisam. Como eles
basicamente comem plantas, ter um número exagerado de coelhos no seu quintal
significa expor o seu solo à erosão. Além disso, eles competem por alimentos
com outros bichos, levando espécies nativas a extinção.
A infestação de
coelhos é um problema no Brasil, mas quem mais sofre com a presença desse
animais são Austrália e Nova Zelândia, países isolados com uma fauna
diferenciada e exclusiva – como o bilby e o kiwi. Por lá, a taxa de crescimento
dos coelhos é insana, tanto, que eles até criaram um vírus para tentar conter o
número de animais: o tiro saiu pela culatra, porque a seleção natural fez com
que nascessem mais coelhos resistentes ao tal vírus.
A principal
forma de controle da invasão é a caça e o abate dos coelhinhos.
Javali (Sus scrofa)
Os javalis são
animais nativos da Europa, América do Norte e Norte da África. Na Europa, eles
foram praticamente extintos em alguns países, devido à caça e a ocupação humana
de seu habitat natural. Já na América do Sul, a introdução dessa espécie traz
problemas graves.
O bicho já
tinha sido trazido para o Brasil algumas vezes no século XIX, mais
especificamente para o Pantanal. Mas a situação só fugiu mesmo de controle nos
anos 70, quando o javali foi trazido para criações da Argentina e Uruguai e
acabaram fugindo para o Rio Grande do Sul, onde passaram a crescer
exponencialmente por todo o sul do país. Hoje, já existem javalis até em São Paulo e Bahia.
O javali não
tem nenhum predador natural, é vetor de doenças, destrói plantações e o solo, e
ainda come galinhas, patos e cordeiros. Para se ter uma ideia do tamanho do
problema, em Santa
Catarina, vários produtores desistiram de plantar milho, já
que a fome do javali impossibilita a colheita.
Para completar
o caos, o javali procria com os porcos domésticos criando uma nova espécie de
potencial destrutivo imenso: o javaporco. A praga é tão grande que o IBAMA permite a caça e o
abate dos javalis, e em contrapartida incentiva a criação de uma espécie nativa
chamada queixada.
Formiga Argentina
A formiga
argentina dominou o mundo. Sério mesmo, a espécie tem um alto nível de
organização comunitária e povoa extensões geográfica tão amplas quanto os
humanos. Em 2000, cientistas descobriram uma supercolônia de formigas
argentinas, que se estendida por 6 mil quilômetros na Europa, de Portugal à
Grécia. Mais tarde, também foram encontradas supercolônias nos Estados Unidos e
no Japão.
Os bichinhos,
que são originários da Argentina, Uruguai, Paraguai e sul do Brasil, se
espalharam pelo mundo lá pelo século 19, através de navios. A formação dessas
supercolônias internacionais, que compartilham material genético entre si, é
algo incomum já que normalmente os formigueiros travam disputas entre si.
Além de
infernizar a vida doméstica, as hermanas já dizimaram populações de uma espécie
lagarto que costumavam se alimentar de outras formigas, que perderam a disputa
de território. Também são resistentes a inseticidas comuns, já que seus
formigueiros sempre tem mais de uma rainha para colocar ovos.
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