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O FILHOTE

segunda-feira, 22 de abril de 2013

RONCO MASCULINO X INSÔNIA FEMININA


ELAS SÃO INSONES, ELES RONCAM.


Dificuldade crônica para dormir afeta mais as mulheres, apneia do sono é mais freqüente em homens.

Dormir, ao contrário do que descreveu Machado de Assis pelo personagem de Brás Cubas, está longe de ser “um modo interino de morrer”. Aos olhos da medicina, a hora do sono é, isto sim, uma segunda vida que, se mal vivida, pode arruinar o tempo em que se fica acordado. Na edição deste mês dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar, o pneumologista Carlos Alberto de Barros Franco e a especialista em neurociência Dalva Poyares traçaram o caminho para uma noite tranquila e listaram os sinais de alerta para os que brigam com o travesseiro procurarem ajuda médica. Existem mais de cem tipos de distúrbios do sono, mas há os campeões, como a insônia para as mulheres e a apneia do sono para os homens.

— Sono é um assunto que envolve várias áreas da medicina, mas nós muitas vezes não perguntamos sobre a qualidade do sono ao paciente — disse o cardiologista Cláudio Domênico, coordenador do evento que lotou a Casa do Saber na última quarta-feira, com mediação da jornalista Ana Lucia Azevedo, editora de Ciência e Saúde do GLOBO.

A médica Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono, em São Paulo, referência mundial na especialidade, explicou que o limite para multiplicar os riscos de problemas é dormir menos de cinco horas e meia por noite. A partir deste nível, todos os estudos epidemiológicos são unânimes em afirmar que há 230% mais riscos de desenvolver diabetes, 180% a mais de perigo de hipertensão arterial e 200% mais chances de problemas renais na comparação com pessoas que dormem de seis e nove horas.

— Cada vez dormimos menos, ficamos hipertensos mais cedo e engordamos, temos mais estresse e irritabilidade. Os manuais de endocrinologia já põem, entre as causas de obesidade, a falta de sono — acrescentou a pesquisadora.
A relação entre dormir pouco e engordar é a seguinte: mais tempo desperto leva a um aumento da fome e a maiores chances de comer. Menos sono também dificulta a regulação da temperatura do corpo, que fica mais cansado e passa a gastar menos energia. Mais comida com menos gasto de energia é igual a ganho de peso.

A insônia, uma das queixas mais comuns, afeta entre 10% e 15% da população, mais mulheres que homens. Quem tem insônia ou é privado do sono por outros motivos procura dez vezes mais assistência médica. O bruxismo, quando o paciente fecha a boca com força durante o sono a ponto de desgastar os dentes e ter dor facial, é outro distúrbio dos mais conhecidos, ao lado da síndrome das pernas agitadas.

— Mulheres têm estratégias diferentes para lidar com o estresse. A capacidade de despertar da mulher é maior, pois o cérebro responde de forma diferente, fica hiperalerta, a cabeça não para de funcionar — explicou Dalva. — E estresse é desencadeador de insônia, que geralmente ocorre depois de um evento ameaçador da vida, como um problema grave cardiovascular.

Mas o líder de queixas é a apneia do sono. É uma das patologias crônicas mais prevalentes, mais que diabetes, segundo o pneumologista Barros Franco. Entre 30% a 60% dos homens acima de 45 anos roncam, e parte dos que roncam tem a apneia. Quem sofre da doença tem um relaxamento das vias aéreas superiores, com a queda maior da língua ao dormir. Sem despertar, a pessoa deixaria de respirar e, por isso, o sono reparador passa a ser um sono superficial. Podem haver dezenas de despertares durante a noite, sem que a pessoa perceba.
Atenção para o tamanho do colarinho

A polissonografia é o exame que consegue medir os despertares, a frequência e a eficiência da respiração durante o sono. O apneico do sono nem sempre tem consciência do distúrbio, que tem como sintomas principais o ronco intenso, daqueles que se ouve no quarto ao lado; sonolência diurna a ponto de prejudicar o convívio social — em geral, odeiam cinema, porque dormem durante as sessões —; e a apneia testemunhada. Sobre o último sintoma, geralmente é o parceiro de cama que observa, por isso, na hora de ir ao consultório, é melhor levar o cônjuge.

— Há também os sintomas de ganho de peso e diâmetro de pescoço largo. Homens que usam camisa acima do tamanho 42 têm sinal de depósito de gordura. Pessoas com o queixo para dentro têm mais riscos de apneia do sono, porque há mais chance de queda de língua — explicou.
Entre as formas de tratamento da apneia do sono, é comum o uso de uma máscara que manda ar sob pressão e evita a obstrução das vias respiratórias, conhecida como CPAP e indicada apenas por especialistas.

Tanto Dalva quanto Barros Franco concordam que nem sempre a máscara ou os remédios são a solução. A vida secundária do sono depende do que se faz na rotina acordado e, neste caso, bom comportamento é o que chamam de higiene do sono.

Primeira lição é respeitar o corpo, que é regulado para funcionar de dia e descansar à noite. Dar aos olhos a consciência da luz do dia e a falta dela ao crepúsculo ajuda o corpo na produção regular de melatonina, hormônio que induz ao descanso. O dia todo em ambientes com luz artificial, sem janelas, pode atrapalhar. Álcool pode fazer dormir, mas não um sono de qualidade, que prepara bem para o dia seguinte. Combater a obesidade com alimentação saudável, comer menos à noite e exercitar-se, de preferência, pela manhã, são outras boas ações.
— Malhar à noite é completamente antifisiológico. É importante evitar também café, chocolate e chá à noite, além do álcool como indutor do sono — destaca Barros Franco.

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