Por: Neemias.
Uso de botos-cor-de-rosa como isca pode levá-los à extinção na Amazônia
Animal
vem sendo usado na pesca do peixe piracatinga em 35 comunidades da região
AMAZONAS - Os botos-cor-de-rosa,
encontrados tradicionalmente na Amazônia, estão sob ameaça. Especialmente na
região do Baixo Rio Purus, no estado do Amazonas. Segundo um levantamento feito
pelo Instituto Piagaçu (IPI) e pela Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) em 35
comunidades de pescadores em área de reserva de desenvolvimento sustentável, o
animal está sendo morto e usado como isca para a pesca do peixe piracatinga
(Callophysus macropterus), segundo informações da Agência Brasil.
O trabalho teve a colaboração da
Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) e contou com a liderança da pesquisadora
Sannie Muniz Brum, que apontou que, no longo prazo, caso nenhuma medida seja
tomada agora, a prática pode acabar levando à extinção do chamado “golfinho da
Amazônia”.
Segundo a coordenadora adjunta do Centro
Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA) do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Carla Marques, não há
pessoal suficiente para exercer uma fiscalização contínua na região. O ICMBio
fiscaliza as áreas dentro das unidades de conservação e o Instituto Nacional do
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) se encarrega de fiscalizar
fora dessas unidades.- Os órgãos têm pouco contingente para atender a uma
região como a Amazônia. Algumas ações ocorrem em parceria com a Polícia Federal
e as polícias locais, mas são pontuais. A gente não consegue estar presente o
tempo todo. E a pesca continua – disse Carla à Agência.
Além de uma fiscalização mais rigorosa e
permanente, a pesquisadora Sannie Brum defendeu a necessidade de se levar às
comunidades que habitam em áreas protegidas informações para que saibam que é
crime usar botos-cor-de-rosa como isca para a pesca. Segundo a pesquisadora, a mortalidade é
elevada na região do Baixo Purus devido à atividade de pesca da piracatinga.
Considerando 15 toneladas pescadas somente na região, de acordo com relato dos
próprios pescadores, a estimativa é que até 144 botos-cor-de-rosa sejam mortos
por ano para virar isca.
A situação se agrava considerando que os
golfinhos têm uma reprodução lenta. As fêmeas têm uma gestação de cerca de dez
meses e, após o nascimento, podem cuidar dos filhotes por até quatro anos. Com
isso, a inserção de novos botos na natureza é demorada. Sannie diz que a morte
de uma grande quantidade desses animais pode inviabilizar a manutenção da
espécie.
Segundo a Agência Brasil, Sannie Brum
pretende começar uma nova pesquisa para descobrir o que pode ser usado como
alternativa de isca para a pesca da piracatinga. Trata-se de um tipo de peixe
que se alimenta de carne morta ou em putrefação. Por isso, é rejeitado como alimento
pelos próprios pescadores.
Sannie Brum explicou que apesar disso,
eles vendem o produto para mercados de São Paulo, do Paraná e do Nordeste e,
inclusive, para outros países, como a Colômbia. Para isso, usam o nome fantasia
de “douradinha”. Como é vendido sob a forma de filé, a piracatinga acaba sendo
comprada pelos consumidores que o confundem com um peixe nobre, a dourada
(Brachyplathystoma flavicans).
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