“NOSSA META É ACHAR A CURA CIENTÍFICA DA
AIDS ATÉ 2020”
Kevin Frost, presidente da entidade, explica quais
são as estratégias da fundação para descobrir a cura da doença em cinco anos e
o papel do Brasil na luta contra o HIV
A amfAR vai investir cem milhões de dólares em estudos
com diferentes abordagens que se aproximam da ideia de encontrar a cura da aids.
Na noite desta
sexta-feira, empresários, socialites e celebridades se reúnem em São Paulo para o jantar
anual de gala da Fundação para as Pesquisas da AIDS (amfAR). Em sua quinta
edição na cidade, o evento busca arrecadar fundos para a instituição que é uma
das maiores organizações sem fins lucrativos do mundo dedicada ao apoio da
pesquisa da aids, prevenção, tratamento e educação sobre o HIV.
Para atrair a atenção do
público - e convencer os participantes da festa a abrirem a carteira - vieram
ao Brasil especialmente para o Inspiration Gala, nome oficial do evento, a
cantora e atriz Cher, a cantora australiana Kylie Minogue e o estilista francês
Jean-Paul Gaultier.
O jantar realizado em São Paulo em 2014
arrecadou 8,7 milhões de reais, dos quais uma parte foi doada para a Sociedade
Viva Cazuza, entidade que oferece auxílio e tratamento para adultos e crianças
com HIV. Neste ano, o beneficiário será o Instituto Nacional de Infectologia
Evandro Chagas, que desenvolve pesquisas na área de doenças infecciosas, como a
aids. A escolha da instituição está ligada ao ambicioso objetivo da amfAR:
encontrar a cura da doença até 2020.
À frente da fundação está
o americano Kevin Frost, que deixou uma carreira musical em 1990 para se tornar
um ativista na luta contra a aids. Durante sua estada em São Paulo , Frost
conversou com o site de VEJA sobre as estratégias da instituição para descobrir
a cura da aids e o papel do Brasil nessa luta.
A amfAR investirá
100 milhões de dólares em pesquisas para encontrar a cura da aids até 2020. Não
é uma meta ambiciosa demais obter a cura da doença em cinco anos? O que nós queremos dizer com 'encontrar a cura da aids
até 2020' é encontrar o entendimento científico de como curar as pessoas até
lá. Isso não significa que seremos capazes de curar todos os indivíduos, o que
levaria muitos anos para acontecer. Um exemplo claro disso é a poliomielite. Há
mais de cinquenta anos existe uma vacina para a pólio e ela ainda não está
erradicada no mundo. Para alcançar nosso objetivo, ao longo dos próximos cinco
anos, investiremos 100 milhões de dólares em muitos projetos de pesquisa,
incluindo alguns no Brasil, que esperançosamente nos levarão à ciência da cura.
A maioria das pessoas acredita que encontrar a cura será muito difícil,
complicado e caro. Nosso trabalho é tornar essa busca mais fácil, simples e
barata.
A escolha do
Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, que é uma instituição de
pesquisa, como beneficiário do baile de gala deste ano faz parte desta
estratégia? Somos uma
instituição de pesquisa e a maioria dos nossos investimentos é neste campo. No
entanto, quando começamos a atuar no Brasil, há cinco anos, precisávamos aprender
mais sobre quem estava fazendo pesquisa aqui, quais eram as linhas de estudo e
como nós poderíamos apoiar os institutos. Enquanto não tínhamos essas
respostas, beneficiamos instituições sociais. Nós continuaremos a fornecer
apoio social, pois isso também faz parte das nossas ações. Mas, em primeiro
lugar, nossos apoios são direcionados para pesquisa.
O Brasil é o único
país em desenvolvimento no qual a amfAR realiza o baile de gala anualmente. Por
quê? Por muito tempo o Brasil foi um líder mundial na luta
contra a aids. Os brasileiros se engajam nesta causa e é por isso que estamos
aqui há cinco anos e continuaremos enquanto houver apoiadores. O país começou a
fabricar seus próprios medicamentos e a oferecer tratamento gratuito para todos
os que tinham a doença, o que foi um ótimo trabalho e um exemplo. O problema é
que, algumas vezes, os países enfrentam desafios econômicos e o Brasil está
enfrentando um agora. Quando isso acontece, frequentemente os primeiros cortes
feitos são nos programas sociais. Se o Brasil cometer este erro, no longo prazo
a aids vai crescer muito por aqui.
A última pesquisa
divulgada pelo Ministério da Saúde sobre aids mostrou que no Brasil os casos
aumentaram em jovens e homossexuais. O que poderia ser feito para reduzir essa tendência? O Brasil não é o único a apresentar estas estatísticas. O
problema se repete em muitos países e isso é uma falha dos nossos esforços
relacionados à prevenção destas populações. Precisamos ajudá-las a entender
porque elas são um grupo de risco e dar as ferramentas que elas precisam para
se proteger. Os políticos e os religiosos não gostam que nós façamos campanhas
direcionadas, principalmente para o público homossexual, e nós temos que lutar
contra isso. Os jovens merecem receber uma comunicação honesta e direta sobre
quais são os seus riscos. E, a menos que façamos isso, cada vez mais jovens
continuarão a se infectar.
O senhor já ouviu
falar do "Clube do Carimbo", um grupo de pessoas soropositivas que se
reúne em sites para passar dicas de como transmitir aids para outras pessoas? O
que acha disso? Ouvi
falar sobre isso hoje pela primeira vez e estou chocado. Alguém precisa me
provar que isso realmente é verdade e não algo que saiu de um filme de terror.
Porque as pessoas iriam querer infectar outras? Eu nunca ouvi algo do tipo em
nenhum outro lugar.
O preconceito
ainda é um problema na luta contra a aids? O preconceito e o estigma da aids fazem com que as
pessoas não realizem o teste, porque têm medo do que os outros vão dizer se
descobrirem que elas têm HIV. No caso dos homossexuais, isso é ainda pior,
porque eles já enfrentam preconceito e discriminação por causa de sua escolha
sexual. Nós temos que enfrentar o estigma, o preconceito e a discriminação.
Qual foi a
principal realização da amfAR nestes 30 anos de atuação? Eu diria que foi o estudo que descobriu como o vírus HIV
infecta a célula. Essa descoberta foi fundamental para que se conseguisse
realizar a primeira cura de uma pessoa com aids: Tim Brown, conhecido como o
paciente de Berlim. Esse homem foi curado porque seu médico escolheu um doador
de medula que tinha uma mutação que impedia a infecção do organismo pelo HIV.
Após o transplante, Brown deixou de apresentar o vírus no sangue porque recebeu
um sistema imune que não poderia ser infectado. Isso só foi possível graças a
um estudo patrocinados pela amfAR.
De que forma a
presença de celebridades em eventos como baile de gala ajudam na luta contra a
aids? As celebridades sempre estiveram relacionadas à nossa
historia, porque Elizabeth Taylor foi uma de nossas fundadoras e a maior
apoiadora. As celebridades têm o poder de trazer atenção e recursos. Quando
elas focam na nossa causa, isso faz com que pessoas que nunca ouviram falar da
amfAR busquem saber do que se trata.
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