Descartadas aos milhões,
bitucas viram papel, adubo e combustível.
"É um lixo incômodo, deixa cheiro
ruim, a gente quer se ver logo longe dele", diz a estudante Gabriela Paes,
20, segundos após apagar uma bituca, na avenida Paulista.
Dos seis cigarros que Gabriela fuma por
dia, ao menos metade, segundo sua própria estimativa, acaba nas vias por onde
passa. Como ela, outros passantes dão o mesmo destino à ponta, contribuindo
para a soma das 34 milhões de bitucas jogadas por dia na Grande São Paulo.
Uma parte muito pequena é reaproveitada,
segundo a Rede Papel Bituca. A ONG recicla esse lixo disperso em São Paulo ,
transformando-o em papel, com o apoio da Universidade de Brasília. Em três
anos, reciclou seis milhões de pontas.
"Levamos os coletores e buscamos as
bitucas. Elas são trituradas e passam por um liquidificador industrial para
virar papel", explica o engenheiro Rafael Siqueira, um dos criadores do
programa.
"Poucos estabelecimentos destinam
bitucas para reciclagem. Por isso, fazemos campanhas de educação."
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Uma pesquisa de 2011 da publicação
científica norte-americana "Tobacco Control" estima que as bitucas
representem de 22% a 36% do lixo visível nas metrópoles.
Como Siqueira, outros empreendedores
enxergaram aí uma oportunidade. Um deles, o projeto Coletor Ambiental,
transforma o acetato de celulose das pontas em adubo para grama. Para financiar
a coleta, a empresa que desenvolve a iniciativa vende publicidade nos
coletores.
Já a empresa Bituca Verde achou um
cliente na indústria de cimento. "As bitucas podem substituir a queima de
carvão vegetal em fornos industriais", diz o gerente Jorge Henrique
Barbosa.
Segundo ele, a substituição do carvão
pelas bitucas chega a 25% entre alguns dos seus clientes, e o mercado poderia
ser até três vezes maior, caso a indústria tabagista fechasse um acordo
setorial, previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010.
"A lei prevê responsabilidade
compartilhada do resíduo pós-consumo, de quem produz e de quem consome. Os
fabricantes poderiam ser os maiores financiadores da reciclagem, mas o prazo
para um acordo venceu em agosto, e não parece haver interesse em tocar na
questão por enquanto", diz ele.
A Abifumo (Associação Brasileira da
Indústria do Fumo) afirmou por meio de nota que o setor "está analisando o
assunto".
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