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O FILHOTE

domingo, 26 de junho de 2011

Aulas em espaços on line

COM AS REDES SOCIAIS, AULAS VÃO MUITO ALÉM DAS SALAS

A internet, antes restrita a momentos de lazer, passa a ser usada para transmitir conteúdo a alunos


Com uma conta no Facebook, a professora Valquíria   Borges ajuda alunos do curso de Fisioterapia da Emescam
Onde se aprende mais: na sala de aula ou no computador? Alguns anos atrás essa pergunta ofenderia qualquer educador. Hoje, há quem enxergue no ambiente virtual uma nova ferramenta de ensino, tão importante quanto a educação formal. A diferença concentra-se sobretudo na metodologia. Dentro dos muros de uma instituição as informações fluem de forma organizada, sistemática e com roteiro pré-definido. Nas redes sociais, elas chegam por todos os lados, e o número de "professores" se multiplica.

A internet, antes território restrito aos momentos de lazer, passa a ser usada para transmitir conteúdo, complementar o que é dito em sala de aula e tirar dúvidas dos estudantes. Há iniciativas tanto em escolas de educação básica quanto no ensino superior.

Mais interação
A professora Valquíria Cuin Borges usa o Facebook para ensinar. Com uma colega de trabalho, administra uma conta na rede social para ajudar os alunos do curso de Fisioterapia da Emescam a entenderem melhor conceitos práticos. Além de eventos da área, ela inclui relatos de atendimentos a pacientes feitos por alunos de períodos mais avançados. As experiências são abertas a todos. No Facebook, os estudantes podem debater o assunto e tirar dúvidas. "Facilita muito", diz Valquíria.

A orientadora técnica educacional do portal Planeta Educação, Karen Andrade, avalia como positiva e necessária a utilização das redes sociais no aprendizado. Para ela, o papel do professor, nesse caso, não se limita a transmitir informação. Ele também deve orientar o aluno sobre a melhor forma de aproveitar os recursos disponíveis na internet. "As redes sociais ajudam a direcionar a aula e permitem que o professor conheça melhor o aluno", diz.

A Faculdade Univix, por exemplo, possui uma comunidade com mais de mil membros que permite a discussão de assuntos por meio de fóruns, criados por alunos ou professores, visualização de fotos e a participação em bate-papo. O espaço, aberto para até para quem não é aluno da instituição, permite o acesso a informações sobre o conteúdo de todos os cursos.

Na FDV, a informação também é transmitida via web. A instituição possui uma rede social própria, o Observatório FDV. Nela, alunos e professores podem inserir vídeos, notícias e comentários em um modelo semelhante ao Facebook.


Professor tem 3 perfis, site e 106 mil seguidores
O professor de Direito Alexandre Mazza é mais do que um educador. Entre os alunos é uma celebridade. Com três perfis no Facebook, site próprio, mais de 106 mil seguidores no Twitter e uma espécie de fã-clube no microblog, ele achou a fórmula que une educação e lazer.

Nesse campo ele é autodidata. Foi errando e acertando que encontrou o ponto ideal entre os momentos de bater-papo e apresentar o conteúdo. "Percebi que nenhum professor usava o Twitter de forma profissional. Então, resolvi postar algumas dicas para o exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)", conta.

Mazza afirma que a iniciativa foi "um sucesso". "Comecei a crescer. Como fui pioneiro nessas coisas, aprendi que não posso postar tudo o que faço ao longo do dia, até para me preservar. Hoje, trabalho com muito conteúdo, mas não deixo de falar de algumas coisas pessoais, sempre respeitando o limite entre o espaço privado e público", diz.

Novidades
Segundo ele, não há roteiro. Professor de cursos preparatórios para concursos, ele informa sobre novidades na legislação e indica links úteis aos estudantes. Em véspera de grandes seleções, faz revisões online. O conteúdo complementar é disponibilizado em um site próprio, criado há cerca de sete anos, cinco anos antes da conta no Twitter.

"A internet obriga a ser mais objetivo e direto com a informação. Percebi que o público que se acostumou com as redes sociais não aceita mais uma linguagem diferente. Acredito que, aos poucos, a linguagem da internet vai mudar a linguagem usada em sala de aula", opina.

Quem não tem rede vai de site...
Nem todas as instituições se sentem seguras para utilizar as redes sociais como ferramenta de ensino. Mas nem por isso precisam ficar longe do mundo digital. Sites, blogs e até e-mails de grupo ainda desempenham um grande papel nas escolas.

No Centro Educacional Leonardo da Vinci, o blog do ensino médio tem 1,5 mil acessos por mês, em média. De acordo com o professor de Física, João Duarte, o espaço serve para motivar a discussão sobre algum assunto ou enriquecer o que foi dito em sala de aula. A página na internet ainda recebe artigos sobre temas relacionados com o conteúdo.

O site do UP possui um espaço para os alunos conferirem simulados e blogs de alguns professores.

Na escola Crescer PHD, cada turma de ensino médio tem seu e-mail. Por meio dele, professores encaminham textos e materiais entregues em sala de aula. Além disso, essa é a oportunidade que as famílias dos alunos têm de acompanhar as aulas, pois todos os pais têm a senha de acesso.

Redes viram ferramenta de tira-dúvidas

No Twitter, o professor Murilo Goes é pura descontração, como a maioria das pessoas que usam as redes sociais. Mas mesmo ali, no ambiente virtual, sabe de sua responsabilidade. "Meu principal foco é desfazer a barreira, o tabu, que existe entre professor e aluno. Sei que o professor é um modelo. Dou aulas de Português e não posso cometer erros no texto, mesmo a internet sendo um ambiente mais flexível." Segundo ele, alguns alunos já acessaram o microblog para tirar dúvidas. "Às vezes eles querem respostas imediatas. O Twitter e o Facebook permitem isso", explica o professor, que tem cerca de 800 alunos do 1º e 2º ano do ensino médio e uma conta de e-mail só para responder a perguntas de estudantes.

Opinião de especialista
"É preciso saber como usar as redes sociais"

Para o educador Cláudio de Moura e Castro, as instituições de ensino ainda estão no "zero" quando o assunto é a utilização de redes sociais. Com exceção de ações isoladas, ainda há muito o que avançar no aproveitamento do potencial da internet. O economista, escritor, mestre em Educação e colunista da revista Veja não acredita que as redes sociais, sozinhas, tenham a capacidade de aumentar o interesse do jovem pela escola, mas defende que elas façam parte de um processo de evolução.

Como as redes sociais são usadas na Educação?
De forma estruturada para ajudar na Educação, estamos no zero. Mas o potencial é muito grande. Podem haver experimentos interessantes que desconheço, mas de modo geral não há nada estruturado.

O que falta?
O potencial (das redes sociais) é grande, mas é preciso saber como elas serão usadas. Não é automático. Usar para fazer o quê? Há várias tentativas de colocar questões e provas no Twitter, as coisas estão começando a acontecer. Mas mesmo nos Estados Unidos não existe uma linha de produção. Nesse ponto a Educação é muito atrasada.

Mas há iniciativas de alguns professores ...

Esse é o caminho mais fácil, digamos. A linha mais ambiciosa é começar a ter lição, prova no Twitter.

As redes sociais podem aumentar o interesse do jovem na escola?

Sozinhas, não. Currículo excessivo e material chato, na sala de aula ou no Twitter, é a mesma coisa. É como colocar uma matéria chata, de decoreba, no computador. Ela vai continuar chata. Se é para tornar o ensino interessante, o Twitter pode ser parte da solução. Mas a escola tem que se tornar mais interessante.

Como as redes influenciam na Educação?

Há um aspecto importante, que não está bem estudado: é o papel das redes sociais em aproximar a escola do aluno, mas aí não é uma mudança cognitiva. É simplesmente afetivo, emocional. O aluno que se comunica com a escola por Twitter se sente mais perto da instituição, e isso é bom.

Como os educadores devem separar o pessoal do profissional na internet?
Aos poucos é possível desenvolver uma etiqueta para lidar com isso. Antes as pessoas não sabiam lidar com celular: falavam na hora que não podia... Dez ou 15 anos depois, esse conflito não é mais o mesmo. O professor que coloca todas as inconfidências num clique está se expondo. Ele tem que ouvir de um amigo que não deve ou perder uma vaga no emprego para aprender.

"A rede promove a aprendizagem conduzida pelos estudantes. Eles aprendem com o professor, aprendem entre si, ensinam uns aos outros e até podem ensinar aos professores"
Bruno Costa Teixeira,
Professor de Direito Digital da FDV

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