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O FILHOTE

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO


REFLEXÕES DE UM PROFESSOR MUNICIPAL SOBRE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Sobre o trabalho dos professores
O papel de um professor é o de contribuir para a transmissão e compartilhamento de conhecimentos aos alunos, bem como acompanhar o desenvolvimento cognitivo, social e intelectual durante o ano letivo de cada um. O Sistema de Ensino no Brasil ainda está atrasado. É comum em cursos de Licenciaturas, por exemplo, que os Professores Universitários preguem a idéia de que na sala de aula os alunos devem construir conhecimentos sob a tutela do professor regente. Isso é muito bonito no discurso, mas inviável na prática por vários motivos, sendo um deles que a construção de novos conhecimentos requer a aplicação de normas técnicas/científicas e precisam ser aprovados pelas Universidades e Institutos Federais, seguindo as normativas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) entre vários outros critérios científicos.

Toda Escola de Ensino Fundamental e Médio no Brasil, deveria estar diretamente ligada a uma ou mais Universidades e/ou a um ou mais Institutos Federais. De fato isso não ocorre. Nós professores públicos municipais, por não termos acesso direto aos meios acadêmicos rotineiramente, temos que assumir o papel por conta própria de compartilhar o que sabemos com nossos alunos e avaliar todo o tempo se aquilo que ensinamos está sendo assimilado por eles.

É inviável aliar ensino e pesquisa de qualidade aos professores que tem uma jornada de trabalho com 02 turnos/dia, período mínimo para se ter um salário melhor no final de cada mês trabalhado. Imagina então construir conhecimentos com a participação dos alunos sem estar alivanhado com as Universidades e Institutos de Ensino? Ao ser ensinado nos cursos de Licenciatura ao futuro docente, que o aluno na sala de aula deve construir conhecimentos, as Universidades demonstram estar longe da realidade do ensino brasileiro. De uma maneira geral, a ideia que se transmite no país é que um professor é aquele que deve estar em sala de aula durante todo o ano letivo. Para o professor estar lecionando e ao mesmo tempo produzindo conhecimentos, demandaria seu afastamento de sala pelo menos um turno de trabalho.

O professor deve estar em contínuo estudo e atualização, tanto sobre os conteúdos que leciona, quanto com a literatura produzida pelos teóricos da Educação. Na medida do possível, o professor deve estar atento aos avanços tecnológicos, comprar equipamentos para usar em seu trabalho, comprar livros, revistas e fazer os cursos necessários para sua contínua aprendizagem.

Outras características que devem ser perseguidas pelos professores são: ter dinamismo em sala de aula, estar atento às discussões ideológicas, sociais, culturais de seu município, estado, país, o que não é fácil, devido ao pouco tempo que sobra em relação à intensa carga horária que deve ser cumprida rigorosamente dentro da sala de aula. Deve também estudar o máximo de pensadores da educação (com todo o direito de discordar de muitos deles), conhecendo seus objetivos e propostas e por em prática as teorias pedagógicas bem sucedidas, adequando-as a sua realidade vivenciada na escola.

 O professor deve conhecer bem o regimento da Escola em que trabalha, atentar-se a Lei das Diretrizes e Bases da Educação (LDB), conhecer os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) em relação à disciplina que leciona e ter bem próximo de si Constituição Federal Brasileira (CF). O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) também deve fazer parte da literatura conhecida pelo professor. Conhecer bem sua disciplina transmiti-la com clareza, ter o controle da turma e saber direcionar o processo de ensino e aprendizagem, além de submeter-se a hierarquia dentro da Escola, são importantes quesitos que devem permear o trabalho de um bom professor.

Para cada situação encontrada na sala, o professor deve aplicar metodologias adequadas. Assim, reforço que o professor deve conhecer os vários métodos e modelos pedagógicos de ensino/aprendizagem e na medida do possível, adaptar esses modelos de acordo com a realidade e contexto em que trabalha.

Da formação continuada
Infelizmente, a formação continuada com custo zero para o professor é mais propaganda de governo do que verdade real. Na maioria das vezes, o professor faz cursos arcando do bolso com todas as despesas. Uma contínua formação é de grande importância para o profissional em educação. Deveria ser ofertada de tempo em tempo durantes alguns meses do ano, sendo custeadas pelo governo federal em parcerias com o estadual e municipal. Todo o conhecimento é válido, mesmo para ser contestado.  Não existem cursos perfeitos. Não existe formação perfeita. O professor, sempre que possível, deve estar em contato com as atualizações do conhecimento que ocorrem numa velocidade muito grande na sociedade atual. Fato é que não dá para estar sempre fazendo cursos e custeando todas as despesas decorrentes deles e ao mesmo tempo trabalhando dois ou até mesmo três turnos diferentes durante o período de 24 horas.

Escassez de ferramentas para avaliação do trabalho do professor:
Falta em nosso país a mensuração do trabalho dos professores. Qualidade deve ser medida. Para medir, devem-se ter parâmetros. Esses parâmetros não devem ser elaborados pelas pessoas que serão avaliadas. Caso isso ocorresse, cada qual iria criar parâmetros para ser favorecido. Em outras palavras: quem é avaliado não deve avaliar-se. Por não possuir os resultados de parâmetros sérios ligados a medição da qualidade do trabalho dos professores brasileiros, não se pode julgar a bel prazer à qualidade do ensino em nosso país. A rede, seja municipal, estadual ou federal, deveria ter acesso a um conjunto de ferramentas transparentes e verdadeiras que pudessem ajudar na medição da qualidade do estudo oferecido em todas as Escolas do Brasil. O Ministério da Educação (MEC) deveria fiscalizar a aplicação dessas ferramentas e reavaliá-las de tempo em tempo, fazendo as devidas adequações quando fosse o caso. Infelizmente isso ainda não ocorre como padrão em nossas escolas ou ocorre de maneira insatisfatória. Um exemplo da falta de qualidade na medição da qualidade das Escolas é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica  (Ideb) criado no ano de 2007 pelo governo federal e aplicado nas Escolas Públicas em todo o país. O uso de pelo menos um parâmetro pouco confiável, que é a taxa de rendimento escolar (aprovação) permite que as Escolas Brasil afora, aprovem o máximo possível de alunos para no final da obtenção da média do Ideb, essa indique uma melhoria do ensino, quando pode estar ocorrendo o contrário disso.

Das cobranças
Uma pergunta que sempre bate a porta de um professor para desafiá-lo e muitas vezes para jogar sobre seus ombros toda a responsabilidade que se atribui ao processo educacional é a seguinte: Professor, seus objetivos com seus alunos estão sendo atingidos ao longo do tempo? Mais uma vez precisar-se-ia de parâmetros confiáveis para poder produzir dados que pudessem nos orientar em relação aos reais objetivos que se busca na Escola.

Entendo que a educação é um todo. Pais, professores, coordenadores, supervisores, inspetores, diretores, secretários municipais e estaduais de educação, Ministério da Educação, sociedade civil organizada, entre tantos outros atores são figuras importantes que deveriam estar fazendo essa pergunta e construindo caminhos para respondê-la. Mas, de fato, essa pergunta é dirigida apenas ao professor, e espera-se dele uma resposta que venha dar conta dos sucessos e insucessos da educação brasileira. De uma forma geral, posso responder essa pergunta assim: um professor comprometido com a Educação tem como objetivo principal ver o sucesso de seus alunos na vida.

O professor de uma forma geral é cobrado para transmitir saberes aos alunos. Porém, quem muitas vezes cobra isso do professor, esquece-se que algumas vezes os alunos só almejam ‘passar de ano’. Há o grupo de alunos que estão na Escola obrigados pela família enquanto os pais trabalham ou para que os pais fiquem ‘livres’ de seus filhos por uns momentos. Alguns alunos freqüentam a Escola pela merenda. Outros, inclusive, têm a merenda apenas como único lanche do dia. Existe o grupo de alunos que não gosta de estudar, mesmo com a insistência da família. Outros usam a Escola para venda de drogas, outros para passar o tempo. Claro: há alunos que realmente valorizam a Escola e almejam com seus estudos romper barreiras e alcançar objetivos pessoais. Por isso o professor deve estar sempre bem preparado.

Muitos estudiosos em Educação projetam como deve ser um professor ideal e esquecem do professor real, de carne e osso, que também tem família, que também espera que seus filhos alcancem sucesso na vida, que espera um dia ser valorizado economicamente neste país tão desigual.

Conclusão
A Escola hoje está ligada às contradições sociais, econômicas e culturais que fazem parte do próprio dinamismo da sociedade. Nessa sociedade encontramos termos como ‘globalização’, ‘inovações’, ‘sociedade do saber’, ‘novas tecnologias de informação e comunicação’. A sociedade busca na Escola uma resposta sobre como alcançar ‘desenvolvimento’ e se adequar diante das transformações rápidas e profundas que vivemos.  Nesse ponto a sociedade, lança seu olhar para a Escola e espera-se que o professor tenha condições de responder pelos erros/acertos sociais e econômicos da sociedade.

Os erros e acertos na Educação não são construídos sozinhos, de forma isolada, mas dependem de uma série de relações que se forem mal conduzidas, podem levar ao fracasso. Assim termino reforçando que os objetivos buscados na Escola não devem ser individuais, mas sim, de toda a sociedade. Importante ressaltar que o professor não deve carregar sobre si, nem os méritos nem o opróbrio do Sistema Educacional em que estiver inserido: basta apenas tentar fazer sempre o seu melhor, sem culpas, sem desmerecimentos.

Por: Neemias Alvarenga de Souza 
Texto iniciado em 23/12/2013 e finalizado em 27/12/2013.


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