REFLEXÕES DE UM PROFESSOR MUNICIPAL SOBRE A EDUCAÇÃO
BRASILEIRA
Sobre o trabalho dos professores
O papel
de um professor é o de contribuir para a transmissão e compartilhamento de
conhecimentos aos alunos, bem como acompanhar o desenvolvimento cognitivo, social
e intelectual durante o ano letivo de cada um. O Sistema de Ensino no Brasil ainda
está atrasado. É comum em cursos de Licenciaturas, por exemplo, que os Professores
Universitários preguem a idéia de que na sala de aula os alunos devem construir
conhecimentos sob a tutela do professor regente. Isso é muito bonito no
discurso, mas inviável na prática por vários motivos, sendo um deles que a
construção de novos conhecimentos requer a aplicação de normas técnicas/científicas
e precisam ser aprovados pelas Universidades e Institutos Federais, seguindo as
normativas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) entre vários
outros critérios científicos.
Toda
Escola de Ensino Fundamental e Médio no Brasil, deveria estar diretamente
ligada a uma ou mais Universidades e/ou a um ou mais Institutos Federais. De
fato isso não ocorre. Nós professores públicos municipais, por não termos
acesso direto aos meios acadêmicos rotineiramente, temos que assumir o papel por
conta própria de compartilhar o que sabemos com nossos alunos e avaliar todo o
tempo se aquilo que ensinamos está sendo assimilado por eles.
É inviável aliar ensino e pesquisa de qualidade aos professores
que tem uma jornada de trabalho com 02 turnos/dia, período mínimo para se ter um
salário melhor no final de cada mês trabalhado. Imagina então construir
conhecimentos com a participação dos alunos sem estar alivanhado com as
Universidades e Institutos de Ensino? Ao ser ensinado nos cursos de
Licenciatura ao futuro docente, que o aluno na sala de aula deve construir
conhecimentos, as Universidades demonstram estar longe da realidade do ensino
brasileiro. De uma maneira geral, a ideia que se transmite no país é que um
professor é aquele que deve estar em sala de aula durante todo o ano letivo. Para
o professor estar lecionando e ao mesmo tempo produzindo conhecimentos, demandaria
seu afastamento de sala pelo menos um turno de trabalho.
O professor deve estar em contínuo estudo e atualização, tanto sobre
os conteúdos que leciona, quanto com a literatura produzida pelos teóricos da
Educação. Na medida do possível, o professor deve estar atento aos avanços
tecnológicos, comprar equipamentos para usar em seu trabalho, comprar livros,
revistas e fazer os cursos necessários para sua contínua aprendizagem.
Outras
características que devem ser perseguidas pelos professores são: ter dinamismo em sala de aula, estar
atento às discussões ideológicas, sociais, culturais de seu município, estado,
país, o que não é fácil, devido ao pouco tempo que sobra em relação à intensa
carga horária que deve ser cumprida rigorosamente dentro da sala de aula. Deve
também estudar o máximo de pensadores da educação (com todo o direito de
discordar de muitos deles), conhecendo seus objetivos e propostas e por em
prática as teorias pedagógicas bem sucedidas, adequando-as a sua realidade vivenciada
na escola.
O professor deve conhecer bem o regimento da Escola em que trabalha, atentar-se
a Lei das Diretrizes e Bases da Educação (LDB), conhecer os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) em relação à disciplina que leciona e ter bem
próximo de si Constituição Federal Brasileira (CF). O Estatuto da Criança e
Adolescente (ECA) também deve fazer parte da literatura conhecida pelo
professor. Conhecer bem sua disciplina transmiti-la com clareza, ter o controle
da turma e saber direcionar o processo de ensino e aprendizagem, além de submeter-se
a hierarquia dentro da Escola, são importantes quesitos que devem permear o
trabalho de um bom professor.
Para cada
situação encontrada na sala, o professor deve aplicar metodologias adequadas.
Assim, reforço que o professor deve conhecer os vários métodos e modelos
pedagógicos de ensino/aprendizagem e na medida do possível, adaptar esses
modelos de acordo com a realidade e contexto em que trabalha.
Da formação
continuada
Infelizmente, a formação continuada com custo zero para
o professor é mais propaganda de governo do que verdade real. Na maioria das
vezes, o professor faz cursos arcando do bolso com todas as despesas. Uma
contínua formação é de grande importância para o profissional em educação. Deveria
ser ofertada de tempo em tempo durantes alguns meses do ano, sendo custeadas
pelo governo federal em parcerias com o estadual e municipal. Todo o
conhecimento é válido, mesmo para ser contestado. Não existem cursos perfeitos. Não existe
formação perfeita. O professor, sempre que possível, deve estar em contato com as
atualizações do conhecimento que ocorrem numa velocidade muito grande na
sociedade atual. Fato é que não dá para estar sempre fazendo cursos e custeando
todas as despesas decorrentes deles e ao mesmo tempo trabalhando dois ou até
mesmo três turnos diferentes durante o período de 24 horas.
Escassez de ferramentas para avaliação
do trabalho do professor:
Falta
em nosso país a mensuração do trabalho dos professores. Qualidade deve ser medida.
Para medir, devem-se ter parâmetros. Esses parâmetros não devem ser elaborados
pelas pessoas que serão avaliadas. Caso isso ocorresse, cada qual iria criar
parâmetros para ser favorecido. Em outras palavras: quem é avaliado não deve
avaliar-se. Por não possuir os resultados de parâmetros sérios ligados a
medição da qualidade do trabalho dos professores brasileiros, não se pode julgar
a bel prazer à qualidade do ensino em nosso país. A rede, seja municipal,
estadual ou federal, deveria ter acesso a um conjunto de ferramentas
transparentes e verdadeiras que pudessem ajudar na medição da qualidade do
estudo oferecido em todas as Escolas do Brasil. O Ministério da Educação (MEC)
deveria fiscalizar a aplicação dessas ferramentas e reavaliá-las de tempo em
tempo, fazendo as devidas adequações quando fosse o caso. Infelizmente isso
ainda não ocorre como padrão em nossas escolas ou ocorre de maneira
insatisfatória. Um exemplo da falta de qualidade na medição da qualidade das
Escolas é o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) criado no ano de 2007 pelo governo federal e
aplicado nas Escolas Públicas em todo o país. O uso
de pelo menos um parâmetro pouco confiável, que é a
taxa de rendimento escolar (aprovação) permite
que as Escolas Brasil afora, aprovem o máximo possível de alunos para no final
da obtenção da média do Ideb, essa indique uma melhoria do ensino, quando pode
estar ocorrendo o contrário disso.
Das cobranças
Uma pergunta que sempre bate a porta de um professor para
desafiá-lo e muitas vezes para jogar sobre seus ombros toda a responsabilidade
que se atribui ao processo educacional é a seguinte: Professor, seus objetivos com
seus alunos estão sendo atingidos ao longo do tempo? Mais uma vez precisar-se-ia de parâmetros confiáveis
para poder produzir dados que pudessem nos orientar em relação aos reais objetivos
que se busca na Escola.
Entendo
que a educação é um todo. Pais, professores, coordenadores, supervisores, inspetores,
diretores, secretários municipais e estaduais de educação, Ministério da
Educação, sociedade civil organizada, entre tantos outros atores são figuras
importantes que deveriam estar fazendo essa pergunta e construindo caminhos
para respondê-la. Mas, de fato, essa pergunta é dirigida apenas ao professor, e
espera-se dele uma resposta que venha dar conta dos sucessos e insucessos da
educação brasileira. De uma forma geral, posso responder essa pergunta assim: um professor
comprometido com a Educação tem como objetivo principal ver o sucesso de seus
alunos na vida.
O professor de uma forma geral é cobrado para
transmitir saberes aos alunos. Porém, quem muitas vezes cobra isso do
professor, esquece-se que algumas vezes os alunos só almejam ‘passar de ano’. Há
o grupo de alunos que estão na Escola obrigados pela família enquanto os pais
trabalham ou para que os pais fiquem ‘livres’ de seus filhos por uns momentos. Alguns
alunos freqüentam a Escola pela merenda. Outros, inclusive, têm a merenda
apenas como único lanche do dia. Existe o grupo de alunos que não gosta de
estudar, mesmo com a insistência da família. Outros usam a Escola para venda de
drogas, outros para passar o tempo. Claro: há alunos que realmente valorizam a Escola
e almejam com seus estudos romper barreiras e alcançar objetivos pessoais. Por
isso o professor deve estar sempre bem preparado.
Muitos estudiosos em Educação projetam como deve ser um
professor ideal e esquecem do professor real, de carne e osso, que também tem
família, que também espera que seus filhos alcancem sucesso na vida, que espera um dia ser valorizado
economicamente neste país tão desigual.
Conclusão
A Escola hoje está ligada às contradições sociais, econômicas e
culturais que fazem parte do próprio dinamismo da sociedade. Nessa sociedade
encontramos termos como ‘globalização’, ‘inovações’, ‘sociedade do saber’, ‘novas
tecnologias de informação e comunicação’. A sociedade busca na Escola uma
resposta sobre como alcançar ‘desenvolvimento’ e se adequar diante das transformações
rápidas e profundas que vivemos. Nesse
ponto a sociedade, lança seu olhar para a Escola e espera-se que o professor tenha
condições de responder pelos erros/acertos sociais e econômicos da sociedade.
Os erros e
acertos na Educação não são construídos sozinhos, de forma isolada, mas dependem
de uma série de relações que se forem mal conduzidas, podem levar ao fracasso.
Assim termino reforçando que os objetivos buscados na Escola não devem ser
individuais, mas sim, de toda a sociedade. Importante ressaltar que o professor
não deve carregar sobre si, nem os méritos nem o opróbrio do Sistema
Educacional em que estiver inserido: basta
apenas tentar fazer sempre o seu melhor, sem culpas, sem desmerecimentos.
Por: Neemias Alvarenga de Souza
Texto iniciado em
23/12/2013 e finalizado em 27/12/2013.
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