VISÃO MEDIEVAL
DE ANTROPÓLOGOS DEIXA ÍNDIOS NA PENÚRIA
Na crise dos guaranis-caiovás estão envolvidos
interesses da Funai, de antropólogos e de ONGs. Ninguém se preocupa com os
próprios índios
A OUTRA MARGEM - Crianças caiovás brincam
na área invadida em Iguatemi.
Seus pais deixaram a reservado outro lado do rio em busca de
mais terras
O Tribunal Regional
Federal da 3ª Região, em São
Paulo , tomou uma decisão para abrandar um movimento sem
precedentes de homens brancos em nome de um grupo indígena brasileiro. Acatando
um pedido da Advocacia-Geral da União, o TRF determinou que os índios
guaranis-caiovás podem continuar ocupando as terras da Fazenda Cambará, no
município de Iguatemi, em
Mato Grosso do Sul. Em uma carta divulgada na internet no dia
10 do mês passado, membros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
condenaram a ordem de despejo dada pela Justiça Federal de Naviraí, em Mato Grosso do Sul,
comparando-a a uma “morte coletiva”. Logo se espalhou pelas redes sociais a
versão de que os índios iriam cometer um ritualístico suicídio coletivo. Das
redes, a solidariedade ganhou as ruas de diversas cidades, onde muitas
brasileiras não perderam a chance de protestar de peito aberto diante das
câmeras.
O governo agiu rápido,
pediu a suspensão da ordem de despejo e exigiu que a Fundação Nacional do Índio
(Funai) conclua em um mês o laudo antropológico que serviria como o primeiro
passo para a demarcação oficial da terra reclamada pelo Cimi em nome dos
índios.
Com o episódio, o Cimi
conseguiu mais uma vez aproveitar a ignorância das pessoas das grandes cidades
sobre a realidade em Mato
Grosso do Sul e, principalmente, sobre quais são as reais
necessidades dos índios. As terras indígenas já ocupam 13,2% da área total do
país. Salvo raras exceções, a demarcação de reservas não melhorou em nada a
vida dos índios. Em alguns casos, o resultado foi até pior. A 148 quilômetros da
Fazenda Cambará, no município de Coronel Sapucaia, há uma reserva onde os
caiovás dispõem de confortos como escolas e postos de saúde, mas não têm
emprego, futuro nem esperança. Ficam entregues à dependência total da Funai e
do Cimi, sem a menor chance de sobrepujar sua trágica situação de silvícolas em
um mundo tecnológico e industrial. São comuns ali casos de depressão, uso de
crack e abuso de álcool. A reserva Boqueirão, próximo a Dourados, abriga
caiovás submetidos ao mesmo estado desesperador. Levantamento feito por agentes
de saúde locais revelou que 70% das famílias indígenas têm um ou mais membros
viciados em crack. “Infelizmente, a vida dos 170 caiovás acampados na fazenda
em Iguatemi não melhorará com um simples decreto de demarcação”, diz o
antropólogo Edward Luz.
Os caiovás formam o
segundo grupo indígena mais populoso do Brasil, atrás apenas dos ticunas, do
Amazonas. Segundo o IBGE, há 43 400 membros dessa etnia no país. Outros 41 000
residem no Paraguai. Eles transitam livremente entre os dois países, como parte
de sua tradição nômade. Os antropólogos os convenceram de que o nascimento ou o
sepultamento de um de seus membros em um pedaço de terra que ocupem enquanto
vagam pelo Brasil é o suficiente para considerarem toda a área de sua
propriedade. Com base nessa visão absurda, todo o sul de Mato Grosso do Sul
teria de ser declarado área indígena - e o resto do Brasil que reze para que os
antropólogos não tenham planos de levar os caiovás para outros estados, pois em
pouco tempo todo o território brasileiro poderia ser reclamado pelos tutores
dos índios.
Em sua percepção
medieval do mundo, os religiosos do Cimi alimentam a cabeça dos índios da
região com a ideia de que o objetivo deles é unir-se contra os brancos em uma
grande “nação guarani”. Ocorre que o território dessa “nação” coincide com a
zona mais produtiva do agronegócio em Mato Grosso do Sul. O Cimi e algumas ONGs
orientam os índios a invadir propriedades. A Funai também apoia o expansionismo
selvagem. Os 170 caiovás acampados na Fazenda Cambará moravam em uma reserva
situada do outro lado da margem do Rio Hovy. Em novembro do ano passado,
membros dos clãs Pyelito Kue e Mbarakay foram levados pelos religiosos e
antropólogos a cruzar o rio e se estabelecer em uma área de 2 hectares . O secretário
nacional de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República,
Paulo Maldos, visitou os caiovás em Iguatemi um dia antes e deu-lhes a garantia
de que o governo federal zelaria pelos seus direitos. Ex-marido da presidente
da Funai, Marta Azevedo, Maldos é um conhecido oportunista que não perde a
chance de usar a desgraça alheia em favor de suas convicções políticas. “Além de
terra, queremos ter condições de plantar e trabalhar, mas isso nem a Funai nem
ninguém faz por nós”, diz o cacique caiová Renato de Souza, da aldeia
Jaguapiru, em
Dourados. Enquanto os índios tiverem a vida manipulada pelos
medievalistas do Cimi, pelos ideólogos da Funai e pelas ONGs, seu destino será
de sofrimento e penúria.
Fonte:
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/titulo-falso-a-ilusao-de-um-paraiso,
acesso em 04/11/2012.
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