A Copa do Mundo no
Brasil será a mais lucrativa da história. Ainda assim, pouca atenção foi dada a
um personagem importante do evento. O Fuleco, nossa mascote. O
tatu-bola-da-caatinga foi escolhido para representar o futebol no Brasil.
Parecia uma mascote perfeita. A espécie Tolypeutes
tricinctus é totalmente brasileira e, quando
assustada, enrola sua carapaça para formar uma bola impenetrável. Além disso, é
um animal em risco de extinção.
Seu nome Fuleco vem da junção das palavras futebol e
ecologia e foi votado por quase 1,7 milhões de fãs. Ao sugerir o
tatu-bola-da-caatinga como mascote, a Associação Caatinga esperava justamente
unir um dos maiores eventos esportivos do planeta à conscientização ecológica.
Toda a divulgação e publicidade que a copa gera poderiam ser usados para
promover o animal e a campanha para salvá-lo da extinção. Não é o que tem
acontecido, no entanto.
O habitat do tatu-bola, a caatinga e o cerrado, é desmatado a um ritmo
assombroso. Além disso, a caça do animal ainda é muito comum. Por fim, poucos
investimentos e políticas públicas são destinados à região. Há 15 anos, aAssociação
Caatinga vem
trabalhando para chamar atenção ao problema. Foi com esse intento que sugeriram
o tatu-bola como mascote da Copa do Mundo no Brasil.
Quando saiu o resultado, “ficamos muito
felizes”, diz Rodrigo Castro, secretário executivo da ONG. “Ficamos surpresos
que uma ideia singela e simples pudesse chegar tão longe. Conseguimos emplacar
um animal ameaçado nativo em um evento de escala global! Foi o primeiro gol da
copa, marcado em prol da sustentabilidade.”
Depois da decisão da Fifa, a associação
começou a preparar o Projeto
de Conservação da Espécie. Segundo esse plano, a espécie seria salva
em 10 anos. Seriam incentivadas ações de conscientização, políticas públicas,
pesquisas e monitoramento do bioma para diminuir o desmatamento. Nos últimos 16
meses, a ONG esteve em contato constante com a Fifa para que esta ajudasse a
mudar a história do tatu-bola.
Segundo Rodrigo Castro, foram dadas
inúmeras sugestões de como a Fifa poderia atuar. Por exemplo, poderiam destinar
uma parte dos lucros das vendas de brinquedos e pelúcias da mascote para sua
conservação. “Até venderia mais”, diz Castro, “seria uma forma de marketing”.
No site, a Fifa também poderia oferecer aos fãs do futebol informações sobre a
biodiversidade brasileira e o risco que ela enfrenta, conforme a ONG sugeriu.
Todas as alternativas foram rejeitadas
pela Fifa, pois esbarravam em suas políticas internas, na falta de recursos e
no próprio plano de sustentabilidade. Até semana passada. Quando o gerente da
área de sustentabilidade chegou ao Brasil, telefonou a Castro oferecendo 300
mil reais.
“Tínhamos 48 horas para pensar. Era uma
decisão aos 45 do segundo tempo”, diz Castro. Porém, a associação decidiu
recusar a oferta. A quantia era muito inferior ao esperado, menor ainda do que
a colaboração de outros patrocinadores da ONG. “Não faria diferença nenhuma no
nosso projeto de 10 anos”, segundo Castro.
Como contraproposta, a associação pediu
15% do valor total do projeto, a ser doado durante uma década. Para Castro, o
valor, de 1,4 milhões de reais, é menos do que 0,05% do lucro estimado da Fifa.
Estudo da consultoria BDO aponta que a entidade irá lucrar cerca de R$ 10
bilhões com o mundial.
Não receberam resposta. Na abertura da Copa, o
Fuleco não estava presente. Também está sumido dos jogos. “Houve um recuo,
ninguém sabe porque”, diz Castro. Ele afirma que grandes jornais têm noticiado
a ausência da Fifa para salvar o tatu-bola.
Apesar disso, a escolha da mascote não
foi totalmente em vão. O
caso ganhou maior visibilidade e acabou acelerando a aprovação do Plano
Nacional de Ação para Conservação do Tatu-Bola. O documento foi construído por
30 pesquisadores, gestores ambientais e ambientalistas, em uma parceria do O
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio e da
Associação Caatinga.
Atualmente, o plano busca recursos para
sair do papel. Está em contato com o Ministério do Meio Ambiente, Ibama e
outros órgãos ambientais. A campanha Eu ajudo o Tatu-Bola está mobilizando a
sociedade civil e personalidades importantes, como empresas e organizações
internacionais. Castro sonha alto. “Daqui a 20 anos, vamos lembrar da Copa do
Brasil não pelo hexa que vamos ganhar. Mas sim porque mudamos o destino dessa
espécie”.
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